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5 coisas que eu gostaria de saber antes de mudar pra Holanda

Vou te contar um segredo: quando eu e a Carla topamos viajar pra Holanda, nunca havíamos saído do Brasil. O primeiro vôo internacional da nossa vida foi de mudança pra Amsterdam, em um país do qual sabíamos quase nada.

Não nos arrependemos, mas nossa vida teria sido facilitada se soubéssemos de algumas coisas que aprendemos só depois, do jeito difícil.

Agora com o Ducs Amsterdam (onde coloco muito desse aprendizado — ele surgiu pra isso!), muita gente que está de mudança pra Holanda entra em contato, com um monte de insegurança que eu reconheço. E fico pensando...

O que eu gostaria que tivessem me dito antes de eu me mudar pra cá?

De mudança pra Holanda
"Ei, Daniduc do futuro, o que seria legal de eu saber agora?" — Eu, recém chegado à Amsterdam

1. Existem livros que vale a pena ler antes de vir (mas você só vai entender quando mudar).

Eu nem sabia, mas existem muitos livros legais pra se começar a entender onde que você vai amarrar seu burrico e pescar um pouco da alma das Terras Baixas (e frias e varridas pelo constante vento cortante do Mar do Norte).

Eu, se tivesse o dom de prever o futuro, teria começado ainda no Brasil a ler o The Undutchables. Eu já falei sobre ele, mas falo de novo.

Uma dupla de autores (um americano, outro britânico) resolveu esculhambar... hum... "descrever sarcasticamente" os holandeses em todos os seus aspectos. Eles pegaram a motoserra, olharam pra cultura holandesa, ligaram o motor e sentaram o horror.

E é muito engraçado.

Ok, o livro tem seus defeitos: é desnecessariamente cruel em algumas partes, e as generalizações necessárias pra fazer um livro desse tipo às vezes são por demais grosseiras. Lembre-se que, entre a piada e a precisão e nuance, os autores escolhem sempre a piada. Eles caricaturam os holandeses fortemente.

Mesmo assim, muito do que você vai encontrar é verdade verdadeira, e ajuda ter um senso de humor a respeito. Ajuda a amenizar o choque, por assim dizer.

Outro livro legal que vai ser uma tremenda mão na roda não é bem um livro: é um Dicionário de Holandesice. Papo sério, o título dele é A Dictionary of Dutchness.

Um monte de siglas (e mistérios) extremamente importantes pra sua vida aqui serão esclarecidos nesse dicionáriozinho (é curto, mas bem completo). Perdi a conta de quantos "aaaaahmn, então é isso!" eu soltei lendo o danado.

Tenha-o na cabeceira de sua cama. Você irá precisar.

Ah, nem preciso dizer, né? Esse livros estão em inglês.

— The Undutchables: Compre na Amazon.com (no momento, US$16,00)
— A Dictionary of Dutchness: Compre na American Book Center (no momento, €12,50)

Mais recomendações de livros no meu artigo sobre literatura de viagem (tem uma seção pra quem está de mudança).

Livros sobre a Holanda

2. A burocracia é gigante, lenta e indiferente. Pra todo mundo.

Esse assunto me dá calafrios até hoje. Quando eu finalmente, finalmente!, terminei de cumprir os passos básicos e pude respirar por ser, enfim, um amsterdammer, eu dei um longo suspiro.

E escrevi um artigo esculhambando a burocracia holandesa. Hey, a gente se ferra, mas ao menos pode se divertir, né?

Mas antes disso, quando eu estava no Brasil ainda, o que me matava era a espera. Eu agonizei por meses, sem saber se amanhã sairia meu visto ou teria de esperar mais um dia. E mais um dia. E mais um dia.

Teria sido muito útil se alguém tivesse me dito que os vistos só saem de sexta-feira e, se não saírem em três semanas, eles demoram três meses. Teria me poupado um bom naco de sofrimento. Enfim.

O que eu aprendi sobre burocracia foi o seguinte: não adianta agonizar, ficar ansioso, querer acelerar, ficar revolvendo na sua cabeça "e se..." isso e aquilo. Não adianta berrar, se revoltar, suplicar.

Burocracia é uma máquina de metal gigante, lenta e absolutamente indiferente. Ter fúria contra a máquina só vai te desgastar. As engrenagens continuarão se mexendo no mesmo exato ritmo.

Quando aceitei isso finalmente, quando percebi que não havia nada a fazer a não ser seguir todos os passos, sem querer adiantar o tempo, minha vida ficou mais fácil. Saindo do ponto A, pra chegar ao ponto H (de Holanda) eu teria de, necessariamente e no tempo, passar pelo B, C, D...

O que estou recomendando é uma atitude zen. Vá com a onda e ache consolo nessa esperança: um dia isso passará e você poderá escrever artigos tirando sarro da coisa toda em seu próprio blog.

Funcionou comigo, mas só depois de muito desespero. Não faça como eu. Não se desespere.

3. Os holandeses falam holandês — e você vai ter de falar um tanto também.

Eu já contei aqui como eu nem sabia como soava a língua holandesa. Mas eu me consolava com a muito divulgada história de que "todo mundo fala inglês na Holanda".

E é verdade. Em termos. Digo, mais ou menos verdade.

Ok, é assim: realmente uma boa porção dos holandeses, especialmente nas principais cidades e entre jovens, fala inglês como segunda língua, e freqüentemente mais outras línguas ainda.

Mas, veja, eles falam como segunda língua. O país está e funciona em holandês. Se você está vindo passar uns poucos dias, saber algumas palavras de cortesia ajuda, mas não é essencial.

Agora, se você está vindo morar... quanto mais holandês você souber, melhor sua vida será. Nem vou entrar no mérito de que é uma questão de educação aprender a língua do país em que você mora (eu acho isso mesmo); eu vou reafirmar: será melhor pra você!

O país vive em holandês, e não dá pra você ficar morando aqui como turista. Quer dizer, dá, e conheço quem faça isso, mas repito: sua vida fica pior. Superficial.

Os artigos de supermercado estão em holandês (cuidado pra não lavar sua roupa por meses com amaciante achando que é sabão em pó), a maioria dos cartazes e avisos está em holandês, as notícias locais, do dia-a-dia, estão em holandês, muitas correspondências do governo estão em holandês, eles tiram sarro da sua cara em holandês...

E muitas vezes você vai ter de lidar com holandeses que não sabem falar inglês. Sim, eles existem e não são tão poucos assim (se você for pensar, é até um privilégio ter tantos que se dispõem a falar outra língua com você, sendo que eles estão no país deles).

Então, minha recomendação é: esqueça essa muleta de que "todo mundo fala inglês" e, se você pretende morar aqui, comece o quanto antes a aprender o holandês.

Placa na Holanda
Hein?

4. Expatriar é esporte de resistência, não velocidade.

Quando cheguei tudo era novidade. A empolgação de todo um país pra descobrir é o suficiente.

Com o tempo e o cotidiano, porém, começam os choques culturais. Daqueles doloridos, quero dizer, não os divertidos, estilo "que mico".

Falo do choque de você ter sua visão de mundo e realidade ficando obsoleta. Isso não é ruim: te força a formar uma nova, mais ampla. Mas o processo é dolorido. Eu demorei um tempo pra me acostumar com essa dor.

Você será desafiado, você passará por fases em que tudo te irrita, você terá altos e baixos, dias bons e ruins, o entusiasmo some e depois volta e o seu mundo nunca mais será o mesmo.

Eu não me adaptei à vida na Holanda — eu estou sempre me adaptando à vida na Holanda. É um processo. E saber disso ajuda quando vierem os baixos depois dos altos e o entusiasmo sumir. Ele volta (depende mais de você do que qualquer outra coisa).

Continue a nadar.

5. Você não está preparado (nem nunca estará).

Milhões de dúvidas, ansiedades e apreensões assaltam a cabeça de um quase-expatriado. A hora de embarcar no avião se aproxima e dá um frio, um gelado na barriga.

Eu conheço bem esse frio na barriga. Eu senti ele quando estava de mudança pra Holanda, senti ele quando a Carla disse "estou grávida" e senti quando meu instrutor de paraquedismo abriu a porta do avião e disse "é hora de saltar".

Será que estou preparado?

Não. Não está. Não há como se preparar pra isso. A única maneira de saber é fazendo. É embarcando na experiência que irá desafiar (e mudar) sua vida. Nenhuma experiência desse tipo é fácil (crescimento nunca é).

Claro que tentamos nos preparar da melhor maneira possível, e estudar antes ajuda. O que quero dizer é que chega determinado momento, bem na beiradinha da mudança, que é preciso respirar fundo, deixar as dúvidas e ansiedades de lado e... simplesmente ir.

Vá. Aproveite o processo. Ele vai te mudar e isso é bom. E, a propósito, sim, o pára-quedas abriu.

Ele sempre abre.

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Ainda se perguntando se vale a pena? Leia minha avaliação com as 5 vantagens e as 5 desvantagens de morar fora.