Se fosse só pelo queijo, Gouda (que, ahã, fica na Holanda. Eu também não sabia) estaria com sua existência plenamente justificada. Mas em Gouda nasceu ainda outra contribuição pra um mundo melhor: o stroopwafel.
O stroopwafel foi uma das guloseimas holandesas que levamos ao Brasil na nossa primeira volta, e causou furor (justificadamente). Desde então, reservamos um espaço cada vez maior na mala pra entupir de Stroopwafels os amigos e família ("Duuuuucs, que saudades, cadê os stroopwafels? Foi boa a viagem, quantos vocês trouxeram?") Ainda não entendeu o que é? Dê um pulo no artigo onde eu (tento) explicar porque o stroopwafel é o sucesso. É uma das coisas que você deve experimentar quando estiver na Holanda.
O primeiro stroopwafel que comemos foi o industrializado vendido no Albert Heijn. Bom. Mas depois descobrimos os stroopwafels artesanais, feitos na hora, nas feiras. Ah, os stroopwafels feitos na hora, quentinhos, com o caramelo escorrendo...
Onde eu estava? Desconcentrei um minuto.
Ah, sim. Os stroopwafels feitos na hora. Um particularmente bom em Amsterdam é o vendido no Albert Cuyp market (leve lenços umedecidos). Agora, se os de Amsterdam são sensacionais, ficamos a imaginar como seriam os originais, da cidade que os inventou. Bom, só tem um jeito de saber, certo?
Gouda – a cidade, não o queijo
Primeira lição, o nome em holandês é pronunciado rráuda, o que é irrelevante a não ser que você esteja aqui, querendo ir pra rráuda. É uma cidade pequena, que passou por tempos tumultuados, inclusive economicamente. Hoje em dia a economia vai bem melhor e a grana voltou a correr, vinda do comércio do queijo internacionalmente famoso e da fábrica que produz a maior parte das onipresentes velas holandesas.
Usando o nosso fiel Lonely Planet the Netherlands, descobri que o centro histórico fica a poucos minutos a pé da estação central. Surpresa das surpresas, ele é cercado por canais (uma cidade holandesa cercada por canais, coisa diferente). A cidade é organizada ao redor da praça central (o markt), onde há alguns prédios históricos, incluindo a antiga prefeitura e a antiga casa de pesagens de queijo.
Casas de pesagens eram comuns perto das feiras. Antes da padronização de pesos e medidas, um lugar público pra controlar o peso das mercadorias era importante pro comércio. Aliás, no markt rola até hoje uma feira de queijos, onde grande quantidade de queijo-especialidade da cidade é negociada. Acontece de quinta-feira, e portanto iríamos perder, já que fomos durante um sábado.
E há uma igreja com aclamados vitrais, a Sint Janskerk que todos dizem valer a visita. Ah, quem estávamos querendo enganar? Estávamos atrás dos stroopwafels.
Bate e volta no mesmo dia... de trem
Sendo a Holanda um país tão pequeno e com uma infra-estrtura de transporte tão boa, é muito fácil viajar. E Gouda fica perto o suficiente pra ser plenamente possível fazer um bate-volta (day trip). E foi o que fizemos. Nós baldeamos em Rotterdam, mas da Centraal de Amsterdam há trens diretos também, 2 a cada hora.
Desembarcamos na Centraal de Gouda, uma estação surpreendentemente moderna para um prédio inaugurado em 1855. Acontece que o prédio original foi bombardeado pela Força Aérea Real britânica (a famossíssima RAF) em novembro de 1944. Os aliados queriam destruir a estratégica ligação ferroviária entre Den Haag, Rotterdam e Utrecht. No ataque, morreram 8 pessoas, e sinais dele podem ser visto até hoje nas plataformas 3 e 5 (segundo li – não sabíamos dos vestígios quando estivemos lá. Putz, vamos ter de voltar!)
A estação foi reparada em 1948 e depois totalmente reconstruída em 1984.
O Markt e seus prédios
No markt estava, apropriadamente, rolando uma feira. Não, não de queijos. Uma feira normal mesmo.
Demos uma volta e nos familiarizamos com os prédios históricos.
Na lateral do prédio da antiga prefeitura, há um relógio que de tempos em tempos, apresenta aqueles bonequinhos. Eles saem do relógio e fazem uma representação de quando o Conde Floris V concedeu "direitos de cidade" à Gouda em 1272. Ele toca 2 minutos depois da hora cheia e da meia hora.
Se quiser, pode ver um vídeo do sino. Desculpe pelo áudio atrapalhado pelo vento, e ignore as participações dos outros turistas.
Comprando as guloseimas
Consideramos mandar ver em uma paardenworst. Apenas €6,50 por duas! Apesar da pechincha, não estávamos lá para comer cavalos (paarden), mesmo em forma de linguiça (worst). Estávamos lá atrás dos míticos...
Yes. Stroopwafels. Grandes, caramelentos, feitos em sua frente, vêm quentinhos e cheirosos e...
Desculpe, me desconcentrei de novo.
Se são bons? São outro nível de stroopwafels, todo respeito aos industrializados e mesmo aos feitos no Albert Cuyp. São. Muito. Bons.
Fizemos um estoquezinho super básico para nos manter abastecidos durante, talvez, as próximas 48 horas... hã, 36. 28, e não se fala mais nisso.
Uma das partes mais divertidas de comprar os stroopwafels foi fazê-lo em holandês. Ao contrário de Amsterdam, onde o inglês canta pra qualquer um que demonstre qualquer traço de não-natividade amsterdanesa, em Gouda não tivemos problema nenhum em gastar nosso quebrado holandês.
E euros em stroopwafels, claro.
Sint Janskerk e seus famosos vitrais
Dedicada ao santo patrono da cidade, São João Batista, a Igreja já foi catedral (a propósito, você sabe o que é uma catedral? É a Igreja que é a sede de um bispado). É famosa por causa de seus vitrais produzidos entre 1530 e 1603. Existem vitrais mais recentes, como um sobre o período da Segunda Guerra, quando os vitrais foram removidos e escondidos para serem preservados.
A entrada é mega barata e tem guias impressos até em português (de Portugal, claro), o que nos surpeende. Em geral tem guias até em Sioux, mas não em português.
Certamente a Igreja é um ponto alto da viagem, e vale os dois euros e pouco. Veja as informações de preço e horário pra Sint Janskerk.
Veja o set dedicado aos vitrais no Flickr.
Perto da Sint Janskerk, há um museu Het Catharina Gasthuis, um antigo hospital que hoje abriga um pouco da história de Gouda e arte. Estava fechado quando lá passamos, e parece ser um museu pequeno, mas de repente é uma opção pra visita.
De volta
Voltamos ao pôr-do-sol, e chegamos em Amsterdam de noite, cansados, mas com a mochila e o pandulho cheios de Stroopwafels e queijo. Fomos por causa da comida, mas descobrimos uma cidade histórica muito bonita, com povo simpático. Os vitrais impressionaram (dá pra entender porque já eram atração turística já no século XVII). Foi, considero, um dia bem aproveitado!
E agora, o tradicional set de fotos no Flickr para os fanáticos que não podem ser entediados com muitas, muitas fotos.