Como vocês sabem, eu participei do Encontro Internacional de Blogueiros de Turismo em Foz. Infelizmente eu tinha poucos dias pra dispor, então tive de fazer praticamente um bate e volta no Brasil.
Foram seis voos em seis dias: Amsterdam pra Frankfurt, Frankfurt pra Guarulhos, Guarulhos pra Foz e depois tudo de volta. Coisa de umas 24 a 28 horas de viagem, cada trecho!
Ufa!
Vou contar alguns episódios curiosos da aventura. Bora lá!
Com mil raios!
No voo de Amsterdam pra Frankfurt eu fui com o já infame KLM cityhoper ou, como apelidei carinhosamente, "busão de asas", evocando um cockpit guarnecido por um câmbio de caranguejo e um volante daqueles grandões no lugar do manche. Eu já tinha passado emoção nele durante a viagem pra Praga, cês lembram?
O céu sobre Frankfurt estava razoavelmente claro, tirando alguns flocos de nuvens meio mal encaradas. Infelizmente nosso voo pegou fila e teve de ficar circulando Frankfurt no aguardo da vez. E esse carrossel nos colocou na rota de algumas dessas nuvens pequenas mas marrentas.
"Que foi?", diziam elas, "Vai encarar? Cai dentro, mané"
E o piloto, lá, todo confiante, caía.
E numa dessas caiu foi um raio em nosso avião.
A cabine foi iluminada num clarão súbito, com um estalo muito alto que se estendeu em um chiado residual pelos alto falantes.
Rolou aquele silêncio sepulcral, e ninguém tocou no assunto até desembarcar.
Olha, eu sou tranquilo pra voar, mas depois dessa eu quase levantei a mão e pedi a palavra, "seguinte, dá pra evitar os pequenos concentrados de morte, terror e destruição, se não for muito incômodo? Tá cheio de céu azul em volta pra escolher, ninguém vai pensar menos do seu câmbio de caranguejo se der a volta..."
Cara de poltrona
O voo de Frankfurt pra Guarulhos era noturno e estava absolutamente lotado. Culpa, dizem, da Rio+20. Rolou até leilão por causa de overbooking, manja, quando eles vendem mais passagens do que lugares no avião, e aí eles tem de convencer alguém a desistir de bom grado da viagem.
Como suponho que o método de tirar palitinho pra ver quem fica com o mais curto gere muitos problemas (já pensou segurar 200 palitos na mão?), eles ficam oferecendo dinheiro até alguém pensar "diabos, eu nem preciso ir pro Brasil exatamente hoje mesmo, e receber 600 euros pra ficar um dia extra zoando em Frankfurt nem é tão mau".
(Pros voos lotados saindo de Amsterdam, por essa lógica, eles deveriam é cobrar. Amsterdam é muito legal :))
Eu toparia fácil, mas tava sem tempo e tive de embarcar e ficar num voo lotado na poltrona do meio. Argh.
Sentando no meio notei pelo tom meloso "mô-sim-docinho-meu-mumumu" da conversa que eles se conheciam. Imediatamente ofereci pra trocar, ao quê os dois gritaram ao mesmo tempo, meio que indignados "não!" como se eu tivesse oferecido um peteleco no nariz de cada.
Que eles bem que mereciam, aliás. A guria era mimaaaada, o cara todo ansioso em prover o bem estar dela e evitar uma crise de mau humor pelas quais ele desenvolveu uma paúra calcada em longa, loonga experiência, suponho.
Isso tudo com eu no meio, fazendo cara de poltrona vazia enquanto rolava as negociações todas entre os três (casal e o comissário de bordo; ela não falava nem uma palavra de inglês).
Foi um voo comprido, mas pelo menos ronquei por todo o Atlântico, ops. Eu ofereci pra trocar, cês que não quiseram.
KLM e Lufthansa
Eu sou escolado no bom e velho voo KL 792 (AMS-GRU), mas foi a primeira vez que voei Lufthansa. Nem foi escolha minha, mas da Loumar Turismo que comprou minhas passagens e bancou minha participação no EIBTur.
Comparando com a KLM, achei as poltronas mais desconfortáveis, no sentido que recostam menos. Fiquei com a impressão de serem mais estreitaa também, mas não confirmo, pode ser só impressão, aumentada pelo terror de estar no meio do casal.
Embora eu prefira a comida da KLM, a da Lufthansa não é ruim (exceto o "omelete" do café da manhã da volta, e estou sendo generoso ao chamar aquilo de "omelete", aspas e tudo). Bebida, porém, é abundando na Lufthansa, e o chá bem gostoso (há tempos aprendi a evitar o veneno que as companhias aéreas insistem em chamar de café).
Agora, o atendimento da Lufthansa é mega simpático, tanto na ida quanto na volta foi só gentileza e sorrisos, e digo isso como um grande fã do estilo... hã, "despojado" dos holandeses.
O melhor foi a expressão de alemãozice concentrada na forma de schnitzel no café da manhã. Wunderbar!
Enquadramento
Em Foz, prestes a embarcar pra Guarulhos de volta, a fila jiboiava e meandrava por todo o aeroporto, me deixando com aquele frio desagradável de "vou perder o voo".
Quando finalmente fiz o check in, despachei as bagagens e ia pegar meu passaporte com aquele suspiro de "ufa, deu tempo", surgiu uma mão do nada, garrou meu passaporte e:
— Você que é o Daniel?
Supus que não havia de ser um leitor do Ducs Amsterdam me reconhecendo e de fato não era. Era um senhor muy sério com uma camiseta da Polícia Federal.
— Cadê a bagagem dele? Pega pra mim. Vem comigo, Daniel.
E lá fui eu, escoltado pela PF, muito pra surpresa da Monique do Diário Radical, que tava logo atrás de mim na fila. Já tava até vendo os twits de "Ducs em cana". Suspiro.
Primeira coisa, me mandaram colocar tudo no raio xis poderoso, incluindo minha mochila, que ia de bagagem de mão.
Isso tem um problema potencial: o raio xis da bagagem de mão é mais fraco e não afeta filmes de máquina. Mas o de bagagem pode ferrar seu filme. E eu tinha dois rolos de filme na bagagem de mão que a PF me fez passar no raio xis poderoso 🙁
Segundos antes de passar a mochila eu lembrei dos filmes, mas confesso que amarelei de interromper o cara da PF e dizer "ops, esqueci que preciso tirar dois potinhos pretos altamente suspeitos da minha mochila antes de passá-la no raio xis, desculpe".
Deveria ter feito, mas eu tava tenso e assim foi. Posso ter perdido tudo — não sei ainda porque não animei de tentar revelar.
No fim deu tudo certo: eu repeti minha história algumas vezes (a cara dos meganhas quando perguntaram "que você veio fazer aqui vindo de Amsterdam?" com um "participar de encontro de blogs" foi interessante), abri a mala, e fui liberado.
De toda forma, eu descobri que "Tríplice Fronteira -> Amsterdam" é um trajeto, muito literalmente, queima filme.