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4 Dicas locais pra aproveitar Praga na primavera e no verão

O Badá e a Sarah são um casal de amigos queridos que moram em Praga, onde mantém um blog sensacional sobre a cidade. Quando pedi para eles fazerem um artigo convidado pra ser publicado durante a licença paternidade que eu tiraria aqui no Ducs, já sabia que vinha coisa boa. E, como sempre, eles superaram as expectativas com dicas excelentes pra aproveitar Praga na Primavera e verão, daquelas que precisa ser local pra manjar. Com vocês, Badá e Sarah:

O Daniduc nos ofereceu um guest post no Ducs e é claro que aceitamos. Depois era decidir sobre o que escrever. Então pensamos: "Hm, o que o Daniduc diria? ...ou melhor: o que o Daniduc não diria?"

Os Ducs foram a Praga no começo de 2010, no meio de um inverno histórico. Frio, neve — muita  neve — e aproveitaram bem, creio eu, o que um inverno propriamente dito tem para oferecer. O Daniduc escreveu um belo relato da sua viagem.  Na época, nós ainda éramos meio newbies em Praga e, na verdade, ao mesmo tempo em que apresentamos a cidade a eles, descobrimos muita coisa também. De lá para cá, decobrimos mais ainda!

As dicas do Daniduc ainda são preciosas para qualquer viajante que visite Praga. Só que há coisas que ele não viu. Então resolvemos fazer este post com dicas do que se ver em Praga que os Ducs não sabem. Só para alfinetar, haha! (Mentira, é também para incetivá-los a voltarem.) Em especial, para comemorar a chegada da primavera, programas para dias ensolarados em Praga.

Então vamos lá!

1. O "outro" Castelo de Praga: Vyšehrad

Vyšehrad é “o outro castelo de Praga”. De vários pontos da cidade se pode avistar as torres quase negras da sua catedral. Entretanto, é bem menos visitado por turistas (o que acaba sendo uma vantagem, na verdade) porque não é tão perto do centro histórico. É perto, mas não o suficiente para se ir andando. Mas que vale a pena, vale.

Torres da igreja de São Pedro e Paulo em Vyšehrad

Mais um forte do que um castelo, Vyšehrad é delimitado por muralhas e/ou penhascos. Dentro do 'complexo' há muita área verde — um meio termo entre um parque e um grande jardim, bem agradável para um passeio em um dia ensolarado. Quem sabe você também não dá sorte e no dia que for, tem um quinteto de saxofones tocando para os visitantes, como no dia em que fomos?

Por ser um lugar bastante aberto e alto, venta muito por lá. Por isso mesmo, o ideal é visitá-lo durante o calor. Não que não dê para passear por lá no inverno/outono, mas de fato é muito menos proveitoso: o vento frio vem de todas as direções.

O cemitério de Vyšehrad também merece uma visita. Mesmo se você não for assim muito chegado em passear por entre túmulos, este vale a pena. Vários artistas tchecos estão enterrados lá – por exemplo: Dvo?ák, Alfons Mucha, Jan Neruda e Karel ?apek - e em homenagem a eles as lápides e mausoléus são belíssimos.

Cemitério em Praga
Túmulo em Vyšehrad

Por todo o lugar há monumentos e relíquias de origem histórica ou lendária. Como as pedras que Lúcifer teria jogado para esmagar um clérigo que não honrou um acordo. Ou o local onde Libuše profetizou o surgimento de Praga. Aliás, a história de Praga e a lenda de Libuše têm uma ligação muito próxima (como contamos lá no Minha Vida em Praga).

O castelo de Vyšehrad é do século X, um pouco mais recente do que o Castelo de Praga (século IX), e originalmente cada um tinha sua esfera de influência. As reviravoltas da História na região de Praga não foram muito bondosas com Vyšehrad, e desde o seu auge — mais ou menos mil anos atrás — o castelo foi abandonado, reapropriado, destruído, abandonado de novo, retomado e renovado.

Todo esse passado ainda está lá, no alto da colina. A Igreja de São Pedro e São Paulo (a tal das torres negras) foi remodelada no século 14 e de novo no século 19, mas é a mesma igreja. A rotunda de São Martim é tida como a construção mais antiga de Praga ainda de pé: está lá desde por volta do ano 1100 — há outras construções mais antigas, como o Castelo, mas que foram reformadas ou reestruturadas; a rotunda foi remodelada por dentro, mas o prédio em si é o mesmo há mais de 900 anos...

Da mesma forma que Vyšehrad é o outro castelo, ajuda a contar a outra história de Praga. A história antes do Castelo, antes da Cidade Velha.

Sério: se estiver em Praga sem fazer nada em um dia de sol, vá conhecer Vyšehrad.

Como chegar:

De metrô: linha C (vermelha), estação Vyšehrad. A entrada principal do castelo é a uns 5 minutos a pé da estação. Se não achar fácil sinalização, é só sair da estação e ir em direção ao rio (i.e., a Oeste).

De tram: linhas 3, 7, 17 e 21 até a parada Výton, próxima à margem do rio. Daí, há uma escada do pé da colina até Vyšehrad, acaba já bem perto da igreja e do cemitério. Outra opção é descer na parada Albertov (linhas 7, 18 e 24), que fica nas ruas abaixo da muralha no lado norte.

2. Os jardins do Castelo de Praga

Como toda boa residência real que se preze, o Castelo de Praga tem seus belos jardins. A rigor, são vários jardins; mas o que mais chama a atenção, e ao qual esta dica se refere, é o Jardim Real. É uma área quase tão grande quanto o castelo em si, e fica logo ao lado. Teríamos levado os Ducs lá mas, atenção: o jardim fica fechado entre Outubro e Abril.

Bem decorado e agradável, rodeado de árvores, o jardim já é um passeio bonito por si só. De bônus, há alguns detalhes interessantes, como explicações curtas sobre as plantas exóticas e suas origens. A princípio, pode parecer que árvores são árvores (como parecia para mim, ainda mais sem reconhecer nenhuma — clima diferente, vegetação diferente, sabe como é) mas as plaquinhas guardam umas surpresas.

É que os nobres, aparentemente, não só gostavam de ter um belo jardim, mas também de poder tirar onda com as visitas enquanto passeavam. “Este pinheiro-negro eu mandei trazer da Sibéria. Meu conselheiro me avisou que custaria uma pequena fortuna, então eu lhe disse: traga o pinheiro e aumente os impostos! Rón rón rón! (risada aristocrática)”

O Jardim Real foi inaugurado no século XVI pelos Habsburgos. Dentro da área do jardim ficam  prédios 'periféricos' do Castelo – o Palácio de Verão (mais fresco, imagino), o Pavilhão de Jogos (onde as damas da corte podiam se exercitar livres de paparazzi) e alguns outros.

Falando em história... espera, eu tô até nervoso. Admito que eu esperei muito por este momento! Oh boy, oh boy!

Então, me acompanhe: No século XVI, Maximiliano II foi rei da Boêmia (e de quebra imperador do Sacro Império Romano-Germânico). Ele nomeou um fulano chamado Carolus Clusius como médico da corte e responsável pelo jardim imperial. Com esta moral toda, Clusius pôde viajar por toda a Europa, coletando informações para suas pesquisas botânicas e colecionando espécimes de novas plantas, de fora da Europa. Clusius foi um botânico pioneiro, importante e influente. Uma das suas contribuições históricas foi a pesquisa com tulipas (originárias da Turquia). Como criá-las. Como obter variedades de cores diferentes... foi Clusius quem conseguiu, controladamente, cultivar tulipas coloridas — e que é o responsável por introduzir as tulipas na Holanda.

E o que isso tem a ver com o post? Ora: a pesquisa de Clusius com tulipas foi realizada no Jardim Real do Castelo de Praga.

Moral da história: sabe aquelas tulipas de que os holandeses se orgulham tanto? Aquelas, dos famosos campos de tulipas, do parque Keukenhof? Aquelas, símbolo dos Países Baixos tanto quanto tamancos e moinhos? Pois é: todas aquelas belas tulipas — todas! — têm suas raízes nos jardins do Castelo de Praga.

Ai, ai. Me sinto realizado.

Como chegar: há dois acessos ao Jardim Real. Se vier do Castelo, pela saída próxima à Catedral de São Vitu, logo após a ponte está a entrada oeste do Jardim. A entrada leste é um pouco afastada do Castelo, colada no parque Letná.

De tram: linha 22 (é só uma, mas é talvez a linha mais freqüente de Praga) paradas Pražský hrad (próxima ao Castelo) ou Královský letohrádek (próxima ao Letná).

A propósito: logo ao lado da saída oeste, mas um pouco escondido, fica um pequeno recanto onde os falcoeiros deixam empoleirados águias, harpias e falcões. Eventualmente, eles fazem alguma demonstração de maestria. Se for lá ver os bichos de perto (bem de perto), por favor lembre-se de não tirar fotos com flash. Tem uma meia dúzia de avisos espalhados, mas sempre um ou outro distraído/sem-noção joga um flash na cara de uma ave de rapina com olhos assassinos e garras de 10 cm, e deixa todo mundo em volta tenso.

Falcão no jardim do castelo de Praga

 

3. Zoológico de Praga

Talvez você tenha lido isso e pensado: quê? Ele está me recomendando um zoológico!? Sim, estou. Mas não é qualquer zoológico: é o de Praga!

Sério, o zoológico de Praga é bem legal. Até foi premiado como um dos melhores do mundo, inclusive em termos de como tratam os animais. É um parque enorme, cobrindo o pé, a encosta e o topo de um morro. Dá até para andar de teleférico, se ficar com preguiça! A vista para Praga do topo do zoológico também não é nada má. Ou seja: não é só um lugar para se ver bichos, é também um bom passeio para um dia de verão.

Mas claro, tem os bichos. Boa parte deles (os mais inofensivos) ficam basicamente soltos. Por exemplo, os pavões conseguem tranquilamente sair da sua área – e saem. As grades são mais para reservar o espaço deles e impedir os visitantes de entrarem. Os aviários todos, aliás, são nesse esquema: o visitante entra por uma 'eclusa' e fica lá dentro com os animais. É assim também a ala dos morcegos: você entra em um corredor quase completamente escuro e cheio de morcegos. Educativo.

Zoológico de Praga à noite
A ala dos morcegos no zoológico de Praga. É assim, mas com morcegos voando ao seu redor.

Outro destaque (que, pessoalmente, não me chamou muito a atenção, mas merece ser dito) são os leões-marinhos, que fazem apresentações acrobáticas algumas vezes por dia com seus treinadores.

E mais um (que talvez não merecesse ser dito mas me chamou a atenção): a klobása. Uma comida quase onipresente em Praga é a linguiça servida com uma fatia de pão e mostarda, e a que vendem no zoológico foi talvez a melhor que eu já comi. Nhami.

Em 2002 houve uma grande enchente do Vltava, rio que corta Praga. Grande parte da cidade foi inundada, inclusive o zoológico. Foi uma grande comoção, houve mobilização para ajudar a salvar os animais, mas infelizmente alguns morreram mesmo assim. Depois que a situação voltou ao normal os tchecos tinham uma ligação sentimental forte com o Zoo Prahy. Ele foi recuperado e reconstruído. Até hoje o zoológico é uma das coisas mais lembradas quando se fala da enchente de 2002.

Talvez por causa deste elo sentimental (ou talvez só como publicidade) o zoológico sempre faz votações para os nomes dos animais recém-nascidos. Depois que o nome é escolhido e oficializado, espalham cartazes com foto e nome, escrito “Prazer em conhecer.” São muitos, ao longo do ano. É provável que você veja um.

O zoológico, curiosamente, não fecha no inverno (mas os horários mudam). A maioria dos animais tem duas áreas, uma fechada e uma aberta, então frio e neve acho que não são impeditivos, mesmo. Não sei: de experiência própria, só sei que o zoológico é um bom passeio para um dia ensolarado.

Como chegar:

De ônibus: a linha 112 pára na porta. Só que ela é um pouco isolada: começa na parada Nádraží Holešovice (que fica na estação de metrô Holešovice, na linha C, vermelha) e vai até o zoológico (Zoologická zahrada).

De barco: há alguns barcos que partem da Rašinovo náb?eží, na margem direita do Vltava, próximo à Casa Dançante (entre as pontes Jirásk?v e Palackého). O bilhete custa algo em torno de 100 K? (coroas tchecas), e o trajeto acaba na ilha Císa?ský Ostrov. De lá é uma caminhadinha de 1,3 km até o zoológico.

4. Parques e "beer gardens"

Se o sol e as flores não forem o suficiente para confirmar que a primavera chegou, basta olhar os gramados. Assim que o tempo começa a abrir e o calor começa a ficar sério, os locais tomam os gramados em praças e parques. Jogando futebol, ou frisbee, ou sei lá o quê; ou só deitados, vendo o tempo passar.

Praga tem vários pequenos parques, e alguns grandes. A maior parte deles tem um beer garden. É uma área com bancos, mesas e um quiosque vendendo cerveja — e opcionais, como batatas fritas (hranolky), a já citada lingüiça (klobása), sorvete (zmrzlina)...

Pet?ín

Não é um mero morro ao lado do castelo de Praga. Possui lindas vistas para a cidade, esculturas de famosos poetas tchecos espalhadas pelo parque, além de ameixeiras que ficam fantasticamente floridas no final de abril/início de maio. No topo do morro tem a torre de Pet?ín, uma reprodução (em escala 5:1) da torre Eiffel de Paris construída para a Exposição de Praga em 1891. É possível subir para ter uma vista panorâmica da cidade. Outra característica de Pet?ín que não dá para ignorar é o muro gigante que o corta. É conhecido como o muro da fome, datado por volta de 1360, encomendado pelo imperador Carlos IV. Os pobres da cidade o construíram em troca de comida. No topo de Pet?ín ainda tem o monastério de Strahov, um labirinto de espelhos (que não é assim um grande labirinto) e o observatório de Štefánik, entre outras pequenas atrações.

Como chegar:

A entrada principal fica em frente à parada Újezd, na região de Mala Strana. Tram linhas 6, 9, 12, 20, 22. Um funicular leva da base até o topo, com uma parada no meio. Você pode descer onde quiser, mas o preço é o mesmo.

 

Parque em Praga: Pet?ín
Em frente à Újezd, na entrada do Pet?ín, fica esta escultura em homenagem às pessoas que sumiram durante/por conta do regime comunista

Parque Letná

O parque Letná — cujo nome oficial é Letenské sady, ou "Jardins do Letná" — fica em uma colina à margem do rio e tem mais uma bela vista da cidade. É o outro parque/morro ao lado do castelo de Praga. Os Ducs conheceram bem o Letná, na verdade — mas coberto de neve. Se não me engano o beer garden estava fechado: é no verão que mostra a que veio. O beer garden fica a uns 10 ou 15 minutos de caminhada a partir da entrada próxima ao castelo, seguindo a encosta e passando pelo metrônomo gigante. São várias mesas em meio às árvores, um lugar estratégico para uma pausa. A venda de comes e bebes é numa janelinha meio escondida, logo no começo do beer garden.

Como chegar:

Letná - uma entrada fica logo ao lago do Jardim do Castelo (Tram: 22, parada Královský letohrádek; Metrô: linha A, estação Hrad?anská). A rigor, este pedaço do parque é chamado de Chotkovy Sady, mas é separado do Letná só por uma pontezinha para pedestres; do lado de lá da ponte, já é o Letná. Há outros acessos ao parque pelo lado de cima da colina (Tram: linhas 18 e 20, parada Chotkovy sady; linhas 15 e 36, parada Špejchar) ou pela margem do rio (Tram: linhas 12 e 17, parada ?ech?v most) — daí, há uma rampa que sobe pela encosta.

Riegrovy sady

Riegrovy sady é o nome de um parque perto do centro, não muito movimentado. O principal atrativo é o seu beer garden, de fato notável. Não é particularmente bonito, mas tem vários quiosques (o que não é tão comum) com uma grande variedade de bebida e comida. Há dois telões no beer garden, onde às vezes passam jogos e outros eventos populares. É um lugar bem legal para isso. A propósito, um aviso: se quiser ir para lá em dia de jogo, chegue cedo, porque fica lotado.

Como chegar:

Riegrovy sady - De metrô: linha A, estação Ji?ího z Pod?brad (o parque está a noroeste da praça). De tram: linha 11, paradas Italská ou Vinohradská tržnice. O parque está dois quarteirões a norte da rua onde os trams passam.

O Stromovka

O Stromovka é, na minha opinião, o parque mais bonito de Praga. O Letná tem a vista da cidade; o Riegrovy Sady tem seu beer garden; o Stromovka tem, bem, a si mesmo. Bem arborizado, com gramados amplos, uns laguinhos e esculturas... Recomendado para um passeio à toa ou para se exercitar, quem sabe fazer um piquenique. Logo à entrada do Stromovka há um pub/restaurante, mas o parque mesmo, se não me engano, não tem beer garden nem nada parecido. E apesar de ser um pouco menos acessível e não no meio da cidade, o Stromovka me lembra o Vondelpark! Talvez por ser mais plano que os outros...?

Stromovka no outono

Aliás, essa dica dos parques vale para qualquer época do ano, pois ganham cara nova com cada mudança das estações.

Como chegar:

Stromovka - De tram: linhas 5, 12, 14, 15 e 17, parada Výstavišt?. Se estiver de frente ao estádio Tesla Arena (uma referência fácil), a entrada do parque está à esquerda, lá onde estão aquelas árvores grandes, tá vendo...?

Conta aí pra gente!

Então já sabe: se tiver a oportunidade de visitar Praga na época do calor, aproveite! É bem legal. E aí tire umas fotos e venha contar para os Ducs o que eles estão perdendo. Ou então, se já tiver outras dicas boas (afinal é claro que nós também não sabemos tudo), deixe aqui nos comentários!