"Chegou ao seu destino", avisou Catarina, a voz portuguesa de nosso GPS assassino (não são todos os GPS meio homicidas?). O dia estava molhado, cinza, mais convidando prum chocolate quente dentro de algum lugar quente do que um passeio a pé por uma vila medieval.
Mas tinham nos recomendado e estávamos em uma road trip pela fronteira franco-suíça, dando a volta no Lago Genebra (Lac Léman, para os francófanos). Ficar dentro de lugares não era, no momento, a prioridade — embora tenha sido questão de sobrevivência após ficar ao ar livre por algumas horas em alguns lugares muito, muito gelados. De qualquer forma, nesse momento não estava tão frio, fazia convidativos dois graus. Positivos!
Logo de cara, um aviso: carros não entram em Yvoire:

Oquei, sem problemas. Gosto de visitar lugares a pé de qualquer maneira. Entramos e vimos uma vila tão pequena quanto seu artigo na Wikipedia em inglês. A versão em francês nos diz que Yvoire é parte da associação das mais belas vilas da França. Seu turismo de flores é bem famoso — mas estávamos fora de época pras flores.
Bela ou não, logo notamos que estava deserta. O que, na verdade, fazia sentido: era inverno, baixa temporada e o tempo não estava ajudando. No fim, esse tempinho chatoso foi uma grande vantagem, pois tivemos a vila só pra nós, e andar pelas ruas desertas e enevoadas nos transportou, mesmo, para outro tempo.
700 anos de história: desde 1306

A vila foi, em seu começo, um ponto estratégico militar importante, por estar na parte que o lago se estreita e se divide em "pequeno" e "grande" lago. Sua posição estratégica foi o motivo de sua criação por volta de 1300 — e declínio. No século XVI ela foi ocupada militarmente pelos senhores de Berna, teve seu castelo (a fortificação militar da época) queimado e declinou em uma pacata vila de pescadores, sem ser modernizada. Teria esse sido o triste fim de Yvoire?
Não! O turismo moderno resgatou a vila do anonimato e reinjetou vida (e dinheiro) na economia local. Mais ou menos o que aconteceu com Bruges na Bélgica, mas em escala bem menor. Muito menor.
Andamos aleatoriamente pelas ruículas, vendo uma ou outra armadilha de turista aberta (sem ninguém). Tiramos fotos, andamos, fotos, comprei o cartão postal mais feio da minha coleção (comprei ele só porque era tão mal feito que ficou charmoso) e acamos chegando no Lago
O lago é lindo, claro (era meio que o motivo de nossa viagem, certo, dar a volta no lago). Andando perto dele fiquei vendo as águas límpidas, os bichinhos nadando... juro que foi me dando uma vontade de pular na água e dar uma nadadinha.
Conhecendo meu histórico com água fria (eu tenho uma séria tendência a pular nela) a Carla calmamente me explicou que não era uma boa idéia:
— Se pular é melhor ficar lá, que eu não vou cuidar de moleque doente no resto da viagem.
Reconsiderei e fiquei só na vontade. Mas dizem que no verão, a prainha da vila bomba, com o pessoal nadando no lago mesmo. Um dia...
Nos restou continuar a andar. E fotografar...
Metáfora de uma vila
Este barco me pareceu uma metáfora pra vila: antes tinha uma utilidade, voltada para a pesca no lago, hoje, já antigo, ganhou uma vida extra com outra função, segurando vasos. Como a vila medieval de pescadores que hoje, antiga, serve ao turismo. Barco e vila preservam na idade um charme que não desaparece com o tempo.
Site oficial de Yvoire: http://www.yvoiretourism.com/accueil_en.html