Fazia tempo que eu queria ir a um restaurante com estrela Michelin. E acredita que até outro dia eu nunca tinha ido? Logo eu, apaixonada por comida, colunista de gastronomia do Ducs e autora do food blog Entre Panelas! Já era hora de resolver isso.
Mas o que é estrela Michelin? Michelin não é marca de pneu? Sim e não. Já te explico.
O que é (e o que significa) uma estrela Michelin?
Pneu, restaurante... parecem duas coisas muito distantes e até opostas né? Mas na verdade tem a ver sim, basta saber a história. Foram os donos da marca de pneus Michelin que em 1900 decidiram lançar um guia com informações úteis para os motoristas como mapas, instruções, locais para abastecimento, hotéis e restaurantes. Tudo isso para estimular o uso de automóveis na França que na época era muito pequeno. Crescendo o uso de automóveis aumentaria obviamente a demanda por pneus.
Com o tempo eles foram expandindo e lançando o guia em outros países. Na Holanda o primeiro foi lançado em 1908. E com o tempo a seção de restaurantes foi crescendo tanto que eles decidiram contratar um time de pessoas pra visitar e avaliar os restaurantes, sempre a paisana. Em 1931 eles iniciaram a classificação por estrelas e em 1936 eles explicaram o que cada estrela significava:
- 1 estrela: Restaurante muito bom em sua categoria
- 2 estrelas: Restaurante excelente que vale a pena você fazer um desvio do seu trajeto (de carro)
- 3 estrelas: Restaurante excepcional que vale a pena você viajar especificamente pra ele
E tem restaurante com estrela Michelin em Amsterdam?
Esse ano (2017) 16 restaurantes ganharam estrelas Michelin em Amsterdam, tendo recebido 1 ou 2 estrelas. Na Holanda tem 2 restaurantes com 3 estrelas, o De Leest, em Vaassen e o De Librje, em Zwolle. Segundo o próprio guia, eles valem a viagem.
As estrelas Michelin ficaram muito famosas e tem muito respeito qualificando e classificando os restaurantes com 1, 2 ou 3 estrelas.
Será que vale a pena pagar mais para ir a um restaurante com estrela Michelin?
Eu sempre me perguntava: Como é a comida desses restaurantes? Qual a diferença pros restaurantes sem estrelas? Será que a comida é tão boa assim? Tipo, vale a pena pagar, já que em geral uma estrela vem acompanhada de uma conta, digamos, salgada (desculpa, não resisti ao trocadilho)... E além da comida... Como será a experiência toda de comer num restaurante que foi avaliado com a estrela?
Só tem um jeito de saber...
Qual o restaurante com estrela Michelin em Amsterdam que resolvi experimentar?
Tudo começou com o convite de uma amiga pra irmos almoçar no Rijks, um restaurante que nós duas já queríamos conhecer e que esse ano, 2017, ganhou uma estrela Michelin.
A Ali Lickel, vlogger que conheço desde antes de eu me mudar para Amsterdam em 2007. Nós temos algumas paixões em comum: fotografia, vídeo e comida boa. Ela me chamou para ir ao Rijks gravar um vídeo pro canal dela (assina lá!).
Hm, deixa eu pensar, amiga querida, comida boa, filmar e fotografar e finalmente comer num restaurante Michelin. Será que eu aceitei...?
O nome do restaurante é estranho, daqueles bem holandês cheio e is e js em lugares bizarros, mas pensa, você já ouviu algo parecido antes? Sim, Rijks de Rijksmuseum, o museu nacional da Holanda, logo ali na Praça dos Museus, aquele que fica atrás do letreiro I Amsterdam. E sim, esse é o restaurante do museu. E sim ele tem uma estrela Michelin.
Sobre o restaurante Rijks em Amsterdam: a história da Holanda em sua mesa
O Rijks é o restaurante do Rijksmuseum, o museu nacional da Holanda. E esse ano ele foi creditado com 1 estrela Michelin, saiu por toda mídia holandesa. Eu e a Aline já estávamos com vontade de ir lá antes, imagina agora.
O museu conta a história da Holanda. E nele você vê influências de lugares próximos e distantes. A proposta do restaurante é traduzir isso no menu que oferecem, ser o Rijksmuseum servido à mes.
O chefe do restaurante é o holandês Joris Bijdendijk e os pratos são preparados com ingredientes locais e orgânicos sempre que possível. Ele busca inspiração nos sabores que influenciaram a cozinha holandesa ao longo da história.
A comida do Rijks, restaurante em Amsterdam
Olhando o menu do Rijks eu digo que ele tem uma cozinha internacional, com influência holandesa. Você vai encontrar no menu aspargos brancos que são largamente cultivados e muito populares aqui na Holanda, mas num prato que não é tipicamente holandês.
Eles oferecem menus fixos, mas você pode também comer a la carte. Nós decidimos ir a la carte e pedimos cada uma uma entrada, compartilhamos o prato principal que era pra duas pessoas e depois cada uma escolheu uma sobremesa.
Também nos serviram uns blinis de couvert e ainda aceitamos um pão para acompanhar o almoço. Tava tudo uma delícia, quer ver? Primeiro o...
Couvert: Blinis com espumante
A primeira coisa que o Rijks nos serviu foram 2 blinis de queijo. Engraçado que o que eu conheço como blini é uma panquequinha russa. Mas o que nos serviram era um pãozinho redondinho.
Era bem delicado e o sabor me lembrou o pão de queijo. Já a massa era leve como uma de éclair, mas mais consistente, não tinha os espaços aerados.
Comemos acompanhado de um espumante que harmonizou muito bem.
Entrada: aspargos brancos com bechamel de presunto, ervilhas verdes e vinagrete de cebolinha
Eu adoro aspargos brancos e sabia na hora que essa era a entrada que eu queria. Os aspargos brancos são muito populares aqui na Holanda e você só os encontra na primavera. Nós fomos no finalzinho da primavera e essa entrada ainda estava disponível. Agora já não faz mais parte do menu.
Uma coisa que achei muito interessante é como os ingredientes compõem o prato de uma maneira diferente da tradicional. Aspargo branco e presunto é uma combinação bem comum por aqui, mas a maneira como o chefe do Rijks compôs, eu nunca tinha visto.
Os aspargos vieram filetados bem fininho no sentido do comprimento e estavam crocantes, crus ou muito pouco cozidos. O presunto dava um leve sabor ao bechamel, mas não havia nenhum pedaço. As ervilhas eram pequeninas e muito frescas e o vinagrete de cebolinha unia tudo.
Uma entrada leve, com sabores e texturas que se equilibravam e que eu achei deliciosa.
Comi acompanhada da mesma taça de espumante dos blinis.
Prato principal: peixe com berinjela, misô e cenouras
Eu e a Aline escolhemos um prato principal que era pra 2 pessoas, um peixe chamado em inglês de monkfish, em portugês tamboril.
O tamboril é um peixe que vive na costa europeia e pode ser comparado com a lagosta. Ele é um peixe carnudo, de sabor suave, e embora já tenha sido chamado de “a lagosta dos pobres”, hoje é um peixe caro e considerado especial.
Nosso peixe veio acompanhado de berinjela, miso e cenouras. E assim como na entrada, o modo como os ingredientes foram apresentados fizeram o diferencial.
Vieram mini berinjelas, a cenoura em filetes no sentido do comprimento e o miso parecia ser parte do molho. Veio também um chutney de laranja que harmonizava muito bem com o prato.
Uma das nossas diversões foi tentar adivinhar de que sabor era o chutney. E foi incrível como até sabermos que era de laranja, nosso paladar super acurado deduziu coisas que foram de pêssego a maracujá passando por manga. Demos boas risadas. Deve ter sido o vinho.
Aliás, o vinho... hmmm...
Acompanhamos o prato com um vinho branco. Eu escohi um, a Aline outro. Mas não lembro qual. Na verdade a Aline escolheu e eu concordei. Deve ser culpa do próprio vinho isso.
Mas a sério, ficou perfeita a harmonização.
Sobremesa: mil folhas com iogurte de cabra, ruibarbo e óleo de baunilha
Haviam várias sobremesas no cardápio que eu queria, mas até que escolhi fácil.
Me chamou muito a atenção uma que era um mil folhas com iogurte de cabra, ruibarbo e óleo de baunilha. Essa sobremesa não está mais no menu, porque o ruibarbo, assim como o aspargo da minha entrada, é sazonal e você só encontra na primavera.
Eu adoro mil folhas, ruibarbo e baunilha separado, imagina tudo junto. E embora não seja especialmente fã de laticínios de cabra, me pareceu uma combinação interessante. E de fato era.
Muito.
E mais uma vez, a sobremesa desconstrui o conceito que eu tinha de um mil folhas.
As lãminas folhadas vieram ao lado, o ruibarbo cozido em pedacinhos, o iogurte de cabra era bem cremoso e aveludado, de sabor bem suave equilibrando a sobremesa. E as gotinhas de óleo de baunilha davam o toque final de sabor. Estava deliciosa, doce no ponto certo, com um mix de texturas delicado.
Como foi a experiência de almoçar num restaurante com estrela Michelin?
Foi uma experiência muito agradável e de aprendizado também. Não conheço nenhum restaurante com 2 ou 3 estrelas, mas o de 1 estrela é realmente um restaurante muito bom em sua categoria. Eu diria um restaurante excelente.
O atendimento foi muito atencioso e a comida estava deliciosa. Gostei muito do desafio ao padrão dos ingredientes. Em como ingredientes comuns foram apresentados de maneira totalmente diferente do convencional.
Isso foi um dos diferenciais do Rijks. Ele me trouxe uma experiência nova em sabores e texturas. Cada prato me desafiava. E eu aprendi.
Por outro lado, ser excelente não é exclusivo de restaurants estrelados. O restaurante De Kas que visitei há uns anos atras aqui em Amsterdam, não tem estrela, mas eu o considero no mesmo nível do Rijks. (O chefe e dono do De Kas já gahou estrelas Michelin em outros restaurantes que trabalhou). O De Kas oferece comida de excelente qualidade, atendimento excepcional, embora com menos desafios na apresentação dos pratos em relação ao Rijks.
Terraço e informalidade do Rijks
Outros dois fatores que gostei muito do Rijks e que contribuiram pra que toda a experiência fosse extremamente agradável, foram o fato de termos almoçado no terraço e a informalidade quanto ao modo de se vestir.
O dia estava bom e pudemos almoçar no terraço deles que tem um bom espaço e você avista o lindo prédio do Rijksmuseum que é ali do lado. Aproveitar um dia de tempo bom comendo bem, tomando um vinho ao lado de uma amiga querida foi muito bom.
E, uma coisa que sempre me incomodou em restaurantes estrelados, mas que não tinha no Rijks, é que muitas vezes eles tem dress code e você precisa se vestir formal. Eu não gosto de me vestir formal e sempre me incomodou que pra ir num bom restaurante eu tivesse que me vestir de uma maneira x.
No Rijks não tinha essa formalidade. Eu fui vestida com uma calça jeans e uma blusinha. E estar num ambiente descontraído contribuiu pra deixar tudo mais interessante.
Quanto custou almoçar em restaurante Michelin em Amsterdam?
Nosso almoço para 2 pessoas com entrada, menu, sobremesa, mais o couvert, com 2 taças de vinho branco e 2 taças de espumante saiu 160 euros.
O restaurante tem uma opção de menu fixo com 3 pratos que sai €38,00, um pouco mais em conta do que o a la carte, e pode ser uma boa pedida se você quiser o que está no menu.
Mas e aí...?
Vale a pena ir a um restaurante Michelin?
Cada centavo. Eu iria novamente no Rijks feliz da vida.
Recomedo?
Preciso dizer? 😉
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Hey, aproveita e leia mais dicas de restaurantes em Amsterdam aqui. E a Aline deu aqui as dicas dela de restaurantes românticos em Amsterdam.
Serviço:
Restaurante Rijks
http://www.rijksrestaurant.nl/
Horário: Aberto de segunda a sábado das 11:30 as 15:00 e das 17:00 as 22:00. De domingo das 11:30 as 15:00.
Endereço: Museumstraat 2, 1071 XX Amsterdam
Tel: +31 20 674 7555
Referências:
https://en.wikipedia.org/wiki/Michelin_Guide
https://en.wikipedia.org/wiki/List_of_Michelin_starred_restaurants_in_the_Netherlands
http://www.greatbritishchefs.com/ingredients/monkfish-recipes