Opa, tem vídeo novo no canal Ducs Amsterdam: é sobre o mural da Anne Frank feito pelo artista brasileiro Eduardo Kobra numa área alternativa muito bacana de Amsterdam. Assiste aqui e vamos conversar:
O mural da Anne Frank feito pelo grafiteiro brasileiro Eduardo Kobra
Eduardo Kobra você tá ligdo quem é né? O grafiteiro brasileiro fez um mural gigantesco no Rio para as Olimpíadas e o mundo parou para prestar atenção. Amsterdam curtiu a arte nascida diretamente nas ruas e quis também. Kobra foi convidado pra fazer um imenso painel com a Anne Frank.

O mural foi feito no futuro Museu de Arte de Rua, a ser inaugurado em 2018 em Amsterdam, numa área alternativa e muito cool: o antigo estaleiro transformado em hub criativo-experimental. Não conhece ainda? Devia. Vou te levar comigo.
Como chegar no painel da Anne Frank em Amsterdam
Chegar lá é mega simples: desembarca na Estação Central de Amsterdam (Amsterdam Centraal Station), atravessa ela e pega uma das balsas atrás. Duas pegadinhas, porém:
- É a balsa mais da esquerda, com destino a NDSM-Werf. (As outras duas vão para um outro rolê).
- Essa balsa sai a cada meia hora, então as vezes tem que ter um pouco de paciência. Por outro lado, a travessia é só de 15 minutos, e é de graça. E vai valer a pena.
Quando a balsa chegar, você já vai ver o mural no desembarque, é meio difícil de errar.

Ah, mais uma dica: em vez de cruzar a Estação Central por dentro, anda até o lado esquerdo dela e usa o novo túnel bi-modal (pedestres e bikes). O Túnel tem várias pequenas surpresas, como um painel gigantesco de azulejos estilo Delft Blue, criados a mão para reproduzir um original do século XVII.
(Você pode visitar o original no Rijksmuseum de Amsterdam).
Mas é isso: cruzou pelo túnel, sai direto na área das balsas. Dali é só embarcar e cruzar o IJ (fala-se "ái"e não "iji"). Você vai saber que está chegando numa área criativa quando vir um submarino soviético classe zulu ancorado e todo grafitado. Yeah, bem-vindo a NDSM-Werf.
Uma área alternativa em Amsterdam: o antigo estaleiro de NDSM-Werf
Eu já falei de NDSM-Werf no meu roteiro de dicas alternativas de Amsterdam aqui. Mas resumidamente, a história é a seguinte:

Nessa área funcionava até 1979 o estaleiro de Amsterdam. Estaleiro, tá ligado o que é? Onde eles constroem e consertam navios. Ficava pertinho porto de Amsterdam, então era prático. Só que uma hora o estaleiro faliu e a área ficou abandonada, decaindo.
Como espaço vazio em Amsterdam não dura muito, logo vieram os squatters. Squatting é um movimento de ocupação de áreas urbanas abandonadas ou desocupadas devido à especulação imobiliária. Que é, até hoje, um problema sério em Amsterdam.
Como tem muita gente pra pouco espaço, os imóveis valem muito. Daí compensa pros proprietários manter o imóvel vazio valorizando. E aí fica um monte de gente sem poder pagar um lugar pra ficar, e um monte de lugar pra ficar vazio. Os squatters chegam, ocupam e não perguntam pra ninguém se pode.
Mas no caso de NDSM-Werf tava tudo abandonado mesmo. E os caras começaram a entrar e produzir várias coisas bacanas. Isso acabou atraindo mais gente querendo fazer coisas bacanas: artistas, ONGs, skatistas, grafiteiros, bares alternativos e por aí afora.
Dá pra ver que não há lugar mais certo pra fazer um museu de arte de rua em Amsterdam - e colocar o mural da Anne Frank feito pelo Kobra.
Arte de rua é arte? E a preservação, como fica?
Inclusive eu acho muito interessante a ideia de um museu de arte de rua. É uma arte frágil, fica exposta, é por natureza temporária. Mesmo digamos, o dono do muro onde foi feita a arte pode resolver tacar a tinta por cima, porque ele decidiu que aquilo não é arte coisa nenhuma, é sujeira ou vandalismo, e o muro é dele mesmo.

...Mas por outro lado, o que é arte? Quem define? O dono do meio onde a arte foi feita? O Banksy por exemplo, o famoso grafiteiro britânico, saiu pintando muro e nunca pediu autorização pra ninguém. Hoje é um dos artistas mais valorizados do mundo; mesmo assim o dono do muro pode apagar? Isso não seria uma perda?
Outro caso: a Santa Ceia do Da Vinci foi feita para ilustrar o refeitório de um convento em Milão. De certa forma, passou pelos mesmos problemas de arte de rua: a tinta começou rapidamente a deteriorar devido a técnica usada pelo Leo, e ficava numa parede exterior. Uma certa altura fizeram uma porta na parede, cortando a pintura.
Hoje a parede foi refeita, mas dá pra ver onde era a porta. Mas e se os responsáveis pelo convento decidissem que não queriam mais a parede? Um dono de um Da Vinci pode queimar o quadro se ele bem entender? O quadro é dele, afinal.
Ah, mas vai comparar grafite com quadro de Da Vinci? Aí de novo a pergunta: o que é arte? Quem decide?
Curtindo uma cerveja num bar alternativo de Amsterdam
Para ponderar essas graves questões, eu fui ali perto do mural da Anne Frank num bar-pub-restaurante que já indiquei bastante aqui no Ducs: o Pllek. O pub é todo feito de containers, o que cabe bem nessa vibe de reaproveitamento e recriação do industrial para o urbano e para as pessoas de NDSM-Werf.
Além disso, tem ali uma das praias urbanas de Amsterdam, com uma bela vista da cidade que a maioria dos turistas não conhece. Super vale a pena.
A voz das ruas e tolerância: Let me be myself
No fim, deu super certo meu rolê. E tomando minha cerveja, comecei a pensar que tinha, tipo, tudo a ver um mural da Anne feito de grafite. A frase da Anne que o Kobra usou para encabeçar o mural explica: Let me be myself - "Me deixe ser eu mesma".
Tanto o grafite quanto o diário da Anne Frank são os excluídos da sociedade tradicional buscando expressar sua própria voz. Uma voz das ruas, uma voz marginalizada, mas que pede apenas o direito de existir, de ser quem são. A chave da mensagem é TOLERÂNCIA.
Estamos precisando muito. Valeu Kobra, valeu Anne!
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Créditos para o Vlog: Grafite e Anne Frank: a voz das ruas
Músicas de Dyalla Swain:
- 70's Theme Song - Ouça no Sound Cloud
- Red Velvet - Ouça no Sound Cloud
- Fresh Cut - Ouça no Sound Cloud
Imagens, roteiro e edição: Daniel Duclos
Produção: Ducs Amsterdam
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https://youtu.be/qg6_q42fGFo