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O maior festival de documentários do mundo acontece em Amsterdam

Se comparada à São Paulo, Amsterdam é uma cidade tão pequenininha. E é menos famosa do que Paris, Nova York ou Tokio. No entanto, abriga o maior e mais importante festival de filmes documentários do mundo: o IDFA (International Documentary Film Festival Amsterdam, ou "Festival de Filmes Documentários de Amsterdam").

Quem afirma isso é, por exemplo, o jornal inglês The Guardian. A plataforma documentary.org, a Rede Europeia de Documentários e a revista Indie Wire também concordam que o IDFA é o mais importante evento de documentários no planeta. E entre os profissionais, o festival que acontece em Amsterdam anualmente é apelidado de Cannes dos documentários.

IDFA: o festival de documentários mais importante do mundo acontece em Amsterdam

O International Documentary Festival Amsterdam (IDFA) é o que mais exibe, que tem maior bilheteria e o que reúne mais profissionais da área de documentários do mundo! Em 2017, foram vendidos 270 mil ingressos. Este ano, a tendência é que esse número se mantenha. O festival exibirá 293 filmes – entre curtas, longas e médios e prevê a participação de três mil profissionais vindos de 71 países.

Para se ter uma ideia do que esses números significam, o festival que mais se aproxima do IDFA em número de admissões é o CPH:DOX, de Copenhague. Na capital dinamarquesa, a edição de 2018 vendeu 110 mil ingressos. O “É tudo verdade”, de São Paulo, é o maior festival de documentário da América Latina. E exibiu cerca de 50 títulos de 20 países na edição mais recente.

Festival Internacional de Filmes Documentários de Amsterdam
(Foto: Divulgação IDFA)

Documentários em Amsterdam: não-ficção como entretenimento levado a sério

Mas nem sempre foi assim. O festival, que está em sua 31ª edição, começou bem pequenininho. Na primeira edição, em 1988 duas salas de cinema na Leidseplein levaram cerca de 300 pessoas pra assistir 80 filmes, exibidos durante uma semana. Porém, desde o começo, o IDFA foi levado muito a sério. Ally Derks, uma das fundadoras e responsável pela programação artística de 29 das 31 edições conta que desde o início o festival “levaria documentários tão a sério como se levam os filmes de ficção; que os filmes não seriam exibidos em art houses, mas nas salas onde o circuito de filmes comerciais são exibidos”.

E assim o é por causa do formato e estética dos documentários escolhidos. Derks chama os filmes ali apresentados de “pop docs” ou “docutainment”. Tratam sim, da realidade, não é ficção, mas podem ser encarados como entretenimento.

A edição 2018 do Festival Internacional de Filmes Documentários de Amsterdam

Em 2018, o festival terá a duração de 12 dias,de 14 a 25 de novembro. Exibições de filmes, mas também debates, fóruns e outras atividades acontecem em 15 locações distintas na cidade. Entre elas, grandes cinemas do centro, como o Pathé Tuschinski e De Munt) e o Teatro Real Carré, mas também locais menos conhecidos, como o Bakke Grond (centro cultural flamenco) ou o multicultural Podium Mozaiëk em Bos em Lommer, um bairro um pouco mais afastado.

Para Ally Derks, o estilo documentário é “uma interpretação criativa da realidade com uma visão pessoal”. O The Guardian opina que no IDFA há uma tendência a existir uma tensão criativa entre um olhar jornalístico às causas sociais e filmes mais líricos e autorais. Após a exibição dos filmes, em geral, há uma debate caloroso entre diretores e plateia sobre os aspectos políticos ou estéticos exibidos na telona.

Um Festival com diversidade nas obras, no público, na organização

Não há outro lugar na terra que você vê tanta gente na fila às nove da manhã para assistir um documentário”. A frase é do sirio Orwa Nyrabia, diretor artístico do festival desde janeiro deste ano.  A programação das próximas quatro edições está na mão do também produtor de cinema e ativista político que frequenta o festival desde 2005.

Ele já considerava o IDFA como sua segunda casa. Acredita ter herdado um festival que já deu certo, com uma equipe bastante envolvida, mas vê perspectiva de deixar o festival ainda melhor. Para ele, uma das principais diferenças entre o IDFA e outros festivais é a diversidade.

“Quando falamos de diversidade, quando o IDFA fala de diversidade, quando organizações europeias e festivais falam de diversidade, a cereja do bolo é ter alguém como eu em uma posição de decisão não apenas para dizer ser inclusivo; mas sim, para ser parceiro do festival”, afirma Orwa.

Formada por especialistas em gênero e diversidade, a equipe de curadores do festival avaliou 4 mil filmes, levando em conta a qualidade artística e classificaram 293 deles para exibição nas diferentes competições. Os filmes são oriundos de 71 países, sendo que 41% deles são feitos por documentaristas mulheres.

Para ele, a habilidade do IDFA em introduzir novos talentos foi bem sucedida nos últimos 30 anos. Mas é preciso “que os documentaristas façam carreira dentro do IDFA”, o que considera um de seus desafios. O senso de que existe competição entre as organizações de festivais e documentários é algo que ele pretende combater. “Espero que possa contribuir para um cenário de circuito de festivais internacionais menos agressivo” pois é “também minha tarefa preservar a solidariedade entre os produtores de documentários”.

Um sírio na direção artística do Festival Internacional de Filmes Documentários de Amsterdam

Orwa Nyrabia é produtor, diretor artístico do festival e curador desde janeiro deste ano. “Com o conhecimento de Orwa, sua experiência internacional e personalidade inspiradora, ele é a pessoa certa para fortalecer a posião do IDFA como o mais importante festival de documentários no mundo”, comemora Derk Sauer, presidente do conselho do festival amsterdamês.

Nascido em 1977 em Homs, na Síria, é filho de um político de oposição e sua família tem tradição no mundo do cinema. É primo do cineasta Ossama Mohammed e é casado com a documentarista Diana El Jeiroudi. Começou a produzir documentários em 2004. Antes, atuou como ator e jornalista. Em 2013, o filme “Return to Homs”, produzido por ele, abriu o IDFA. Ele já foi mentor da IDFA Academy, direcionada aos novos profissionais da área, e conselheiro do IDFA Bertha Fund, que financia documentários na África, América Latina, Ásia, Oriente Médio e partes da Europa Oriental.

Festival Internacional de Filmes Documentários de Amsterdam
Orwa Nyrabia, produtor, diretor artístico do IDFA (Foto: Divulgação IDFA)

Em 2012, Orwa foi preso no aeroporto de Damasco. Ficou detido por 3 semanas em uma cela com outros 80 presos por ter produzido o filme Return to Homs. Mas o cinema o tirou de lá. Uma petição por sua liberdade foi encabeçada por Martin Scorcese, sendo assinada por, entre outros, Robert De Niro, Robert Redford e Juliette Binoche.

Dicas de documentários para ver no IDFA

O IDFA é uma maneira divertida de acumular informações sobre o mundo de maneira aprofundada. Traz filmes, muitos deles nunca antes exibidos, que fazem a gente compreender o que está por trás daquela notícia que vimos na TV mas que não tivemos acesso a outras posições. No IDFA também podemos conhecer histórias de personagens reais que vivem de modo completamente diferente do nosso; de ter contato com culturas diferentes e locais exóticos.

Na edição de 2018, os curadores foram mais severos e selecionaram menos filmes. Fatores como originalidade e artisticidade foram levados em conta. Assim, os 293 filmes que compõem o festival estão divididos em diversas mostras.

Há, por exemplo, dez categorias para os documentários que concorrem a prêmios. O vencedor da competição de melhor documentário longa-metragem passa a constar da lista dos nominados ao documentário longa-metragem do Oscar a partir desse ano. Outras três mostras são focadas em temas distintos especiais desta 31ª edição. É o caso da mostra “Me”, por exemplo, que reúne 20 egodocumentários da última década.

Mostra de documentários de mestres da área

No programa regular há outras seis mostras. Masters, por exemplo, é composta pelos novos filmes de realizadores que o festival acompanha. Meeting Gorbachev, por exemplo, é o novo filme do Werner Herzog. No vídeo abaixo, Herzog e o co-diretor André Singer falam sobre o filme que será exibido pela primeira vez na Holanda.

“Little Dieter Needs to Fly” foi o filme de Herzog que ganhou o mais mais importante prêmio do IDFA, em 1997. O documentarista é famoso por seus filmes de não ficção mas que parecem ficção.

Dez anos mais tarde, ele foi o convidado de honra do festival, e deu uma aula pública. A convidada de honra em 2018 é Helena T?eštíková, que apresenta sua lista dos 10 filmes que mais a inspiraram em uma aula pública que vai acontecer no Pathé Tuschinski em 16 de novembro.

T?eštíková é bem conhecida na Europa Oriental. Dirigiu mais de 50 filmes, muitos deles receberam prêmios prestigiosos. Além da aula pública, o IDFA mostra uma retrospectiva do trabalho dela, cuja característica principal é acompanhar seus personagens por décadas.

Festival Internacional de Documentarios de Amsterdam
O Documentário sobre os Panamá Papers (Foto: Divulgação IDFA)

Indo além da mídia na mostra Frontlight, do IDFA

Destaco também a mostra Frontlight, com uma seleção de filmes que contam histórias que não são vistas na mídia tradicional ou que exploram histórias familiares em profundidade.

Um dos filmes que compõem essa seção é Panama Papers, sobre o escândalo que envolveu presidentes, primeiro-ministros, jogadores de futebol, xeques e emires.

Neste documentário, os editores do jornal alemão Süddeutsche Zeitung contam a história de como o affair começou. Ao compreender a extensão das evidências, decidem pedir ajuda para centenas de jornalistas investigativos em mais de 100 organizações midiáticas no mundo todo para mergulhar nos dados. Dirigido por Alex Winter, Panama Papers será lançado internacionalmente durante o festival.

Há diversos filmes brasileiros nesta edição do IDFA. Entre eles está My Name Is Daniel. Ele será exibido na mostra Luminous, que trata de temáticas universais a partir de histórias individuais.

Para assistir aos trailers de muitos dos filmes que serão exibidos no IDFA, clique aqui.

Como, quando e onde ver o Festival Internacional de filmes Documentários de Amsterdam (IDFA)

O IDFA acontece em 15 locais distintos de Amsterdam de 14 a 25 de novembro. Os ingressos podem ser adquiridos por filme, mas se você pretende assistir mais de 5 documentários, o melhor é adquirir um Voordeelpass, ou seja, um cartão que lhe dará descontos toda vez que for adquirir um ingresso para o festival. A programação completa está AQUI.