Se você pensa em artes plásticas, qual é o primeiro nome que vem na sua cabeça? E na fotografia, como se chama a pessoa que você imagina segurando a câmera? E na literatura, um autor ou uma autora?
Sendo bem honesta, pensei em Van Gogh, João Roberto Ripper e José Saramago… espero que você tenha se saído melhor do que eu no quesito conhecimento e acesso às artistas. Porque elas produzem tanto quanto os homens, mas ganham menos visibilidade.
Pois bem, todas as dicas do Ducs Amsterdam para o mês de março envolvem mulheres.
Exposição de fotos em Amsterdam: A casa de Anne Frank pelas lentes de Maria Austria
Até 2/9 no Joods Historisch Museum
Exposição ‘Leven voor de fotografie” reúne pela primeira vez as fotos clicadas entre 1930 e 1975 por esta fotógrafa judia radicada em Amsterdam - Até 2/9 no Joods Historisch Museum
Foto reportagem, fotos de espetáculos teatrais, retratos. Estes são alguns dos estilos registrados pelas câmeras de Maria Austria, que nasceu em 1915 e dedicou sua vida à fotografia, dos 15 anos aos 60 anos de idade, quando faleceu.
Na Holanda, Maria Austria ficou conhecida por suas fotos de teatro e dança, tendo como um dos clientes o Holland Festival. Nos anos 1950 e 60 ela fotografou simplesmente todos que se destacaram no teatro, artes plásticas e literatura dos Países Baixos.
Mas seus registros de momentos holandeses históricos são menos conhecidos. Austria possui, por exemplo, uma série que retrata o drama humano após a II Guerra Mundial.
Uma das pessoas que a procurou como cliente foi Otto Frank. O pai de Anne recorreu a ela para que fizesse fotos da casa onde a família da guria famosa pelo diário se escondeu durante a invasão nazista. Em 1954, um grupo de teatro estadunidense montava uma peça com base nos escritos de Anne Frank. 150 destas fotos de Maria Austria - que auxiliaram na composição do drama que estreou na Broadway em 1955 - estão expostas no Joods Historisch Museum.
A fotógrafa registrou inclusive a tatuagem que foi feita no braço do pai de Anne quando ele estava no campo de concentração – com o número pelo qual ele era tratado no inóspito local. E ela também fotografou a inundação de 1953 na Holanda, e a Guerra dos Seis Dias, em 1967.
Uma vida dedicada a fotografia e resistência
Não a conhecia. A descobri enquanto preparava essa coluna. O que mais me intrigou é o fato de, enquanto mulher, ser fotógrafa e tão independente… já nos anos 1930!
Maria Austria estudou fotografia em Viena de 1932 a 1937, quando fugiu do fascismo e se mudou para Amsterdam. Durante a guerra ajudou muita gente, falsificando documentos. Foi nesse período que conheceu seu segundo marido e ensinou-o a fotografar. Depois da guerra abriu sua própria agência de fotos e, anos mais tarde, ainda lutou pelo reconhecimento da independência da fotografia das demais artes plásticas, com o objetivo de garantir subsídios aos fotógrafos em separado.
De acordo com Martien Frijns, seu biógrafo, ela fazia parte de um grupo excepcional de mulheres judias, que na Viena de 1938 eram fotógrafas, solteiras ou separadas, e sem filhos. Focadas em suas carreiras, eram chamadas de “Vienna Shooting Girls”. “Essa mentalidade acompanhou Maria Austria até a morte dela, em 1975. Ela era a força que dirigia o próprio sucesso. Ela determinava o que acontecia… e ninguém mais”, disse Frijns ao jornal holandês NRC.
Serviço para exposição de fotos em Amsterdam:
A exposição Maria Austria, Leven voor de fotografie (vida pela fotografia, em tradução livre) pode ser visitada até 2 de setembro no Joodse Historisch Museum.
Ingressos são gratuitos para crianças até 6 anos, custam 3,75 para crianças de 6 a 12 anos, 7,50 para crianças de 13 a 17 anos e 15 euros para adultos.
O museu fica na Nieuwe Amstelstraat 1 e fica a dois minutos a pé da Waterlooplein (onde você chega de metrô, linhas 51, 53 e 54 ou tram 9 e 14, descendo na parada Artis).
Roze Filmdagen - Festival de filmes LGBT em Amsterdam
De 8 a 18 de março nas salas de cinema Het Ketelhuis
Nada como um festival de filmes para nos ajudar a conhecer realidades que não são as nossas. É o caso do Roze Filmdagen, um festival de filmes que é basicamente sobre amor!
E assistir a filmes que contam histórias, reais ou fictícias, de mulheres que tem a coragem de ser quem são, sejam elas lésbicas, bissexuais ou trans, nos ajuda muito a entender suas realidades e, ao mesmo tempo, diminuir nossos preconceitos.
O Roze Filmdagen está em sua 21a edição e reúne cerca de 125 filmes entre longa-metragens, documentários e curtas. Uma maratona de 11 dias exibindo filmes de diversas partes do mundo. Destaco três deles:
Hello Again abre o festival e celebra a diversidade sexual, com 10 histórias que se passam em tempos distintos e sobre todas as possibilidades de amar. Será exibido apenas na noite de 8 de março:
Em Signature move, enquanto a mãe de Zynab dedica grande parte do seu tempo a procurar um marido pra ela, Zynab vive com dois segredos totalmente desconhecidos por sua mãe. Pode ser visto em 9 e 18 de março.
Já o documentário The Death and Live of Marsha P Johnson mostra quão cruel pode ser o tratamento dado a uma pessoa pelo simples fato dela querer seguir seus sonhos. Encontrada morta em um rio, a polícia declarou ter sido suicídio, mas quem conheceu essa drag queen negra sabe que não foi exatamente isso que ocorreu.
É um filme que defende as drags, trans, sem teto e aqueles que decidem lutar. Nas salas da Ketelhuis nos dias 13 e 17 de março.
Serviço para o festival de cinema LGBT em Amsterdam:
O Roze Filmdagen acontece na Ketelhuis, que fica dentro do Westerpark. Clique aqui para ver programação completa. Os ingressos já estão sendo vendidos e todas as possibilidades de preços e horários podem ser consultadas aqui.
Pintando Amsterdam com areia: Sand Show Amsterdam
De 2 de março a 29 de junho na Posthoornkerk
Elas pintam Amsterdam e ícones turísticos da Holanda com grãos de areia colocados delicadamente em uma superfície de vidro iluminada. E enquanto uma música que tem tudo a ver com as imagens vai tocando, você vai visualizando os desenhos, feitos por elas ao vivo, sendo projetados em uma tela.
O jeito como Anna e Svetlana Telbukh trabalham com a areia pode parecer algo bem fácil de fazer. No entanto, elas treinam diariamente para conquistar a perfeição nas formas.
As pintoras de areia também oferecem o trabalho delas de maneira comercial: você pode contratá-las para, na sua reunião, substituir o chato power point!
O show pode ser visto na Posthoornkerk até o fim de junho, mas se calhar de você conseguir assistir no dia 25 de março, poderá também visitar a torre dessa igreja neogótica. O prédio faz parte da programação do Open Toren Dag – o dia em que torres de prédios particulares são abertas para que as pessoas apreciem a vista do alto de lugares bem exclusivos. Para isso, é necessário se registrar no site da organização do evento a partir de 1/3.
Serviço:
Corre lá reservar o seu ingresso pois quando estava fechando esta coluna, grande parte dos ingressos do mês de março já estavam esgotados! Eles custam entre 22,50 e 52 euros.
Sand show Amsterdam acontece na Posthoornkerk, que fica na Haarlemmerstraat 126-126.
Dicas do mês passado que continua valendo para março de 2018:
Resistência coletiva no futuro digital: Sci Fi Agit Prop