Um fim de semana na praia na Holanda – Texel, o primeiro dia

Esse julho as temperaturas na Holanda estavam altas, consistentemente acima dos vinte graus, alguns dias batendo até vinte e cinco, a holandesada derrentendo, e nós também. Resolvemos nos refrescar no amistoso e nada congelante Mar do Norte, com seu convidativo cinza-plumbeo. Fazia tempo que queríamos visitar uma das ilhas do norte da Holanda, as Waddeneilanden.

Texel

São 8 ilhas num arquipélago que se estende Alemanha adentro. Mas esse negócio de ir Alemanha adentro não pode ficar impune, e os alemães retaliam invadindo as praias holandesas em hordas durante o, aspas, verão, mas dessa vez pra curtir uma praia. O que causa toda espécie de ressentimentos entre os holandeses, por motivos óbvios, e não é ajudado pela mania alemã de se sentir em casa na terra dos outros, por exemplo, ignorando solenemente a língua local (por seis gerações, às vezes). Mas enfim, já provoquei gratuitamente bastante os alemães (e isso nunca é uma boa idéia), só pra entrar no espírito holandês de ir à praia. Minha idéia é contar sobre a excursão dos Ducs a Texel (pronuncia-se "têssel"), a ilha mais ao sul e a maior, mais povoada das Waddeneilanden.

Texel

A ilha tem uma certa história (o quê não tem?), já foi palco de batalhas (durante a Segunda Guerra e bem, bem antes) e hoje é um refúgio ecológico, principalmente de aves. É um destino popular no verão: o turismo é ainda mais importante pra economia do que a criação de ovelhas, e fui muito bem tratado na ilha (embora não tanto quanto as ovelhas, claro, mas também, ovelhas são muito mais simpáticas.)

Texel é perto o suficiente pra justificar uma day trip, mas tem tanta coisa pra fazer que acabamos achando o fim de semana até pouco pra bundar o suficiente por lá.

Pra ir de Amsterdam até lá basta pegar um trem até Den Helder. É rapidinho. Na Centraal de Den Helder você pega o bumba (BR: ônibus, PT: autocarro, SP: busão, NL: bus) número 33 da Conexxion até a balsa que faz a travessia. Siga o tufo de turistas. Se quiser, também dá pra ir a pé, se estiver se sentindo aventuroso - são apenas 2,5 km. De qualquer maneira, ao chegar no porto você compra os bilhetes pra balsa que irá fazer a travessia de 4,5 km de canal que separam o continente da ilha.

A travessia de balsa

Texel - Travessia de Balsa

As balsas são bem grandes, e se enchem de carros e bicicletas (o melhor e mais popular meio de transporte na ilha - duh, é Holanda), e tem lanchonete, e armadilhas de turistas, onde você pode comprar quinquilharias de lembrança. E, importante pra Carla principalmente, banheiros.

Ah, importante: os bilhetes comprados na dia valem também na volta, você não precisa comprar a volta lá na ilha.

Texel - Travessia de Balsa
Piratas descem as escadas pra andar de bike

Mas o mais legal é que as balsas são acompanhadas pelas aves da ilha durante toda a travessia. Elas voam muito perto, e dá pra fazer a festa com as fotos.

(Para os fanáticos por fotografia: se você tem uma câmera com regulagem manual, coloque o shutter speed bem rápido, o foco em servo AI autofocus, habilite o continuous shooting e sente o dedo!)

Texel - Travessia de Balsa Texel - Travessia de Balsa Texel - Travessia de Balsa Texel - Travessia de Balsa

O hotel

A ilha é servida por algumas linhas de ônibus. Durante o fim de semana, a freqüência não é exatamente alta. A linha que nos levaria ao hotel passava de hora em hora, e conseguimos pegar o cara imediatamente após desembarcar da balsa — não sem antes pagar aquele micão regulamentar, claro, conosco correndo de mochila e tudo, em pânico, pra onde o ônibus estava descarregando os passageiros da viagem de ida, cruzando por um lugar que não foi feito pra cruzar, apenas pra ver o ônibus partir, passar por nós e parar exatamente onde estávamos antes, que era o local de embarque de passageiros. Ahhhhhn. Timidamente escondi a bandeirinha do Brasil da manga da minha camisa e comecei a falar em espanhol.

Enfim, o busão andou por 12 km de campos, ovelhas, um ou outro moinho de vento, diques, casinhas de telhadinhos em formatos típicos, mais campos, até nos largar no meio de um campo, sem ovelhas ou moinhos ou diques à vista. Só uma estrada, campos e o ponto do ônibus. Lá longe, umas casotas perdidas.

Texel - ida ao hotel
Hotel? Hotel, cadê você?

Usando o poder do Google Maps (smartphone? Hah! — Google Maps impresso. No papel!) acabamos nos achando. Era um hotel bem simples, 01 estrela, nenhuma maravilha, mas dava pro gasto. Era atendido por um senhor que demorou a se convencer que nosso holandês era uma merda e ele teria de falar algumas coisas em inglês. Isso aconteceu bem depois. Todo o check in foi em holandês mesmo. Ah, nada como sair de Amsterdam pra praticar o holandês.

Texel - ida ao hotel
Ah, ali, o hotel... (à esquerda)

O que se há de fazer? Bikes e praia!

Bem, vamos aproveitar o sábado de sol! Fomos alugar bicicletas. Como o local mais perto do hotel pra alugar bicicletas era o hotel (os outros estando a pelo menos 5 km dali, o que meio que vai contra o propósito de se alugar bicicletas), foi ali mesmo. O senhor da recepção, sorriu, pegou um molho de chaves, escolheu cuidadosamente duas e nos levou até o estacionamento. Lá haviam umas 4 ou 5 bicicletas, todas igualmente feitas sob medida prum holandês padrão, a saber, imensas, enferrujadas, detonadas, sem farol e com freio de contra pedal. A Carla se apavorou.

— Eu que não vou subir nisso!

Pra ser justo, vamos dizer que se a Carla fosse um país, ela seria a Holanda, ou seja, 4 metros abaixo do nível do mar. E se um holandês padrão fosse um país, ele seria o Nepal, ou seja, alto pra cacete. Veja, se a Carla, ao entrar nos banheiros holandeses, não consegue se ver no espelho porque ele fica acima da cabeça dela (não tô inventando!), você calcula que pra ela subir no cavalo de ferro que nos foi oferecido é realmente meio aventuroso.

Por alguns minutos o senhor da recepção observou as tentativas chiliquentas da Carla de subir e pôr em movimento a bike, divertindo-se imenso com as ameaças de desistência sumária e volta imediata a Lilliput (de onde ele supunha que vínhamos). Ele tentou explicar pra Carla como fazer a viradinha elegante, ou seja, por a bike em movimento com um pé e daí subir nela, o que, vamos ser honestos, é mesmo o jeito fácil de subir em uma bike de freio contra-pedal, o que não quer dizer que seja fácil. Os holandeses acham, claro, treinados desde a tenra infância no aprende-ou-enfia-o-dente-no-asfalto, e quem é que liga pra dentes de leite? Mas os nossos são permanentes e a Carla continuava a protestar.

O senhor eventualmente cansou-se do entretenimento da Carla protestando e resingando em o que ele supunha ser liliputês (mas era português, ou, segundo os portugueses, brasileiro) e voltou pro balcão pra contar moscas. Eu conheço minha esposa, então sentei e esperei. Desenrolou-se o processo padrão carlístico de negação/negociação/aceitação e ao cabo de uns vinte minutos ela estava se dando bem com a magrela, quase amigas. No fim do dia, inclusive, elas estavam até falando mal dos maridos, enquanto pedalavam alegremente pelas ciclovias.

Enfim, enfiamos a bike na estrada e fomos pra praia usando a excelente e extensiva rede de ciclovias que corta Texel.

Mentira, primeiro nos perdemos espetacularmente. Mas nos perdemos usando a excelente e extensiva rede de ciclovias de Texel. O impressionante é que conseguíamos não chegar nunca numa praia, o que é um feito ao se considerar que estávamos numa freaking ilha. Quer dizer, em qualquer direção alguma hora você sai forçosamente numa praia!

A não ser que você seja um Duc.

Em algum ponto eu parei e achei uma armadilha de turista (essas eu nunca tenho dificuldade em achar, mesmo no meio do nada em uma ilha) e comprei um mapa bem grosseiro, mas que no fim das contas foi útil. Achamos a praia.

Texel - praia Texel - praia Texel - praia

Bikes estacionadas na praia — sem correntes! Agora, que tal essa pra deixar inseguros os dois habitantes de Amsterdam? Estacionar bike sem prender com corrente, estávamos no interior mesmo...

Praia e o Mar do Norte

Ah, a praia na Holanda. A primeira coisa que você poderá notar é a ausência de guarda-sóis. Não, seus maldosos, não é pela falta de sol na Holanda - aliás, dica: não vá nessa que aqui não tem sol. Use protetor sempre, senão além de se esturricar ao sol ainda vai ter de agüentar as piadinhas quando o povo souber que você se queimou na Holanda. O motivo é outro, e bastante óbvio se você lembrar que um dos símbolos nacionais é o moinho de... de... VENTO! O vento nervoso varre sem perdão as terras baixas, e tulhar as praias de pipas em potencial como proteção do sol não seria uma medida esperta.

Enfim, eles usam umas barraquinhas muito bem ancoradas. De resto, até que a praia é bem bonita. Vejam por vocês mesmos.

Texel - praia

Texel - praia
Proibida a entrada - área de preservação

Texel - praia Texel - praia Texel - praia

Animado com o cenário e com as altas temperaturas que permitiam até ficar descalço na praia, resolvi travar relações com o Mar do Norte. Me expus ao vento e fui lá. Não foi tão ruim. Na verdade, foi bem agradável. A água não estava muito fria, e nadei por um bom tempo, observado de longe pela Carla, a salvo na areia. Fato que a protegeu da gripe de uma semana que me acometeu logo depois de voltar de Texel. O Mar do Norte não pega amizade fácil, o pulha.

Texel - praia
...até que não foi tão ruim...
Texel - praia
..zzZZz... rrrRooOonc

Texel - praia Texel - praia

De Cocksdorp

Almoçamos num bar à beira da praia e depois pegamos as bikes pra explorar mais a ilha. Fomos andando pelas ciclovias, guiados pelo mapa da armadilha, até irmos parar em um dos sete vilarejos de Texel: De Cocksdorp. Lá, nos admiramos com as casas, as flores e as bikes ainda sem correntes a prendê-las.

Texel Texel - De Cocksdorp Texel - De Cocksdorp Texel - De Cocksdorp

Texel - De Cocksdorp Texel - De Cocksdorp

O Dique

Texel - De Cocksdorp
O dique

Ao final de De Cocksdorp, encontramos um dique. É uma elevação e do outro lado, o mar. Ou quase. Do outro lado, um pier e dois barcos. Já era mais de dez da noite, e o sol estava quase se pondo. A luz de fim de dia estava sensacional e deixou tudo imensamente lindo. Eu e a Carla pegamos as câmeras, mas não teve jeito, ao vivo estava muito mais bonito.

Texel - De Cocksdorp

Texel - De Cocksdorp

Texel - De Cocksdorp

Texel - De Cocksdorp

Texel - De Cocksdorp

Texel - De Cocksdorp
O sol se pondo atrás do dique. Fim do dia 1 em Texel

Como nossas bikes não tinham luz, estávamos encanados em voltar ainda com sol pro hotel (teríamos de pegar estrada em alguns trechos). Com muito custo abandonamos a cena e voltamos pedalando sob um por-do-sol espetacular em Texel.

Fotos, fotos.

E esse foi o dia 1 de nosso fim de semana em Texel. Se você quiser ver ainda mais fotos, tem o tradicional set dos Ducs no Flickr, inclusive com slideshow.

Texel 2009 - Dia 1 <- set de fotos do dia 1.

Depois que você ver as fotos todas, pode seguir o segundo dia de aventuras por Texel!

Ingressos pra atrações em Amsterdam

Um jeito bacana de retribuir o Ducs e ainda se dar bem é comprar ingressos online comigo. Assim você evita ficar tomando vento em fila quando você devia estar passeando… e me dá uma força preciosa!

Dá uma olhada na página de ingressos do Ducs Amsterdam

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Eu escrevi um artigo com muitas onde ficar em Amsterdam.

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Então é uma forma de apoiar o Ducs em Amsterdam e ainda descolar um lugar legal, ter suporte em português e pagar menos! :) Todo mundo ganha!

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