"Chuva", pensou Lisboa, "eles vêm da Holanda, certeza que gostam de chuva".
"E vento! Com todos aqueles moinhos, eles hão de gostar de vento!"
E Lisboa mandou um redemoinho aquoso de proporções épicas que causou comoção na cidade, só pra nos receber.
Os locais diziam "nunca vi isso cá, desse modo!"
Emocionado, agradeci a empolgação em agradar, mas pedi pra, sabe, baixar o tom tiquinho só. Deu certo, e é do inverno chuvoso de Lisboa que escrevo esse artigo.

Chegando em Lisboa vindo de Amsterdam
Pegamos um vôo da KLM em promoção e viemos, eu, Carla e a Babyduc, que não é mais baby (tá indo pros dois anos já) mas vai manter o apelido, pra poder responder "você vai ser sempre meu bebê" ao olhar horrorizado dela quando eu disser isso na frente das amigas de colégio. Pobre garota. A única esperança dela é que eu não aprenda holandês o suficiente a tempo (dica: tarde demais).
De toda a forma, o vôo de Amsterdam a Lisboa dura cerca de três horas, e foi tranquilíssimo. Comi o tempo todo, e até a Babyduc comeu, comeu bastante!
Como foi com criança: Estávamos inseguros de despachar o carrinho, tentando não dar na vista que éramos pais de primeira viagem (literalmente nesse caso, ao menos primeira viagem de avião com a Babyduc; de carro já viajamos bastante). Foi sussa, fomos até o bagage drop ou de odd sized luggage, e a atendente etiquetou o carrinho. Passamos no raio x sem sustos (dobramos o carrinho e ele coube certinho). Deixamos o carrinho na porta do avião (ou praticamente) onde um funcionário o recolheu. Ao desembarcamos, estava magicamente lá, nos esperando.
Durante o voo, descobrimos como usa o cinto de segurança infantil (é bico, ele acopla no cinto do pai que estiver segurando a criança — que inferno, eu fico escrevendo bebê e apagando pra por criança. Se escapar um "bebê" no meio do artigo cês perdoem).
Os comissários da KLM foram super simpáticos e atenciosos com a Babyduc e ofereceram leite e água para esquentar mamadeira à vontade (ela não toma mamadeira, mas enfim, é uma possibilidade).
Ah, e levamos entretenimento pra pequenucha, como brinquedinhos, lego e livrinhos. Todos os holandeses na aeronave morriam um pouco por dentro toda vez que eu pronunciava "Nijntje" ao contar historinha pra ela.
(Nijntje é o nome da coelhinha holandesa sucesso de livros infantis e tudo que é merchandinsing).
Comprando o passe de transporte público em Lisboa e chegando no hotel a partir do aeroporto
No aeroporto, resolvemos ignorar os taxis e ir de metro (ou, como eles aqui pronunciam, métro). A linha vermelha chega na cidade e, como pegamos uma pensão bem central (e barata), há estação de metro perto (várias na verdade). Foi bem prático, mesmo com uma baldeação necessária pra chegar na nossa pensão.
Pra comprar o bilhete de transporte público eu gastei exatamente zero horas e zero minutos pesquisando antes como se paga, e resolvi aplicar a imortal filosofia de Zé Carioca: "esquenta não papagaio, na hora a gente vê".
E funcionou! Achei logo as máquina automáticas de venda de bilhetes e estudei as opções (falar o idioma ajuda horrores nessas horas, já que levei coça em Praga e eu tinha ajuda de dois moradores).
Havia bilhetes de dia todo, mas escolhi pegar um bilhete recarregável (é arriscado, já que o que sobra é perdido, mas se der certo sai mais barato). Além disso, com esse bilhete é possível ir com o trem até Sintra usando o saldo. O único problema é que recusou meu cartão (suponho que a máquina estranhou o sotaque holandês dele), e tive de pagar em nota e moeda.
Na chegada já havíamos pesquisado antes, mas durante toda ossa viagem usei a tecnologia avançada do Google Maps off line: ou seja, usei o wi-fi da recepção da pensão pra calcular a rota, tirei foto de tudo da tela do laptop com o celular e pronto. Google maps off line.
Como foi com criança: a linha vermelha é nova, e a estação do aeroporto super moderna, tinha elevador em toda parte, foi lindo. Isso não se repetiria nos próximos dias, coma cesso incerto; em algumas estações não havia elevador e em outras, havia, mas “fora de serviço”. Tive de carregar o carrinho escada acima, e meu carrinho não é um guarda-chuva, é um Bugaboo Bee. Mas, ao menos na chegada, foi 100%.
Quer dizer, 100% até a saída do Metro. Andar nas ruas de Lisboa empurrando carrinho pode ser tenso. Em certos pontos da viagem desencanamos e fomos pro canguru.

Dicas dos locais (Lonely Planet é coisa do passado)
Quando eu estava pra embarcar pra Lisboa, eu fui na página do Ducs no Facebook e no meu twitter e pedi dicas.
Fui inundado com boas indicações de quem mora e de quem foi e conhece do assunto. Eu precisaria de umas 10 viagens a Lisboa pra seguir tudo.
Então, aqui está a dica: leia os comentários deste post no Facebook, e nesse post também.
Além do super apoio do pessoal das mídias sociais, pegamos dicas com amigos, e demos uma vasculhada forte no Turomaquia na grande coleção de artigos legais sobre Portugal.
A todos, OBRIGADO!
Restaurante em Lisboa: a tasca Eurico Ferreira
Bueno, uma das dicas que nos deram foi experimentar uma tasca. Achei o máximo! Claro, não fazia idéia do que seria uma “tasca”.
- É de comer? Arrisquei.
- Oh, sim, oh sim! – responderam!
“Vou pedir logo duas tascas pra mim”, pensei, guloso, sem saber que tasca na real é um tipo de restaurante, não um prato. Ops.
Peguei uma recomendação de uma ao pé do Castelo de São Jorge, no Largo de São Cristóvão, a Casa de pasto Eurico Ferreira, dica da Cristina Yamaguti, que acompanha o Ducs lá no Facebook.
Como era perto da pensão fomos a pé. A determinada altura, notamos que andar ficava mais difícil, as pernas vacilavam, o fôlego faltava.
— Carla, você tá *puf* notando que está difícil andar *arf*?
O mistério foi esclarecido quando lembramos que existem subidas no mundo, acostumados ao achatamento do, aspas, relevo holandês. (dizem que ao subir em um banquinho na Holanda você enxerga a Bélgica, o que é uma maldade, menos em Roosendaal, daí é verdade).
Chegando lá, demos de cara com um minúsculo restaurante, vazio, exceto pelos donos e um figura de bigodón a manjar um bom dum PF. Todos acompanhavam atentos o diálogo novelístico declamado pela Renata Sorrah em uma televisão fixada na parede.
Me senti em casa imediatamente, porque trampei no centro de SP por anos e muito PF comi nos arredores da Miguel Couto sem saber que se tratavam na verdade de tascas paulistas. Ora, quem diria?
Fomos atendidos, desconfio, pelo próprio Eurico, que nos entrevistou sobre nossas preferências. Ele logo descobriu que eu curto um bifão, e que a Carla estava determinada a comer bacalhau exatamente todos os dias em Lisboa.
Meu bifão veio alto, suculento e soterrado em fritas. O bacalhau da Carla veio frito com batatas e delicioso.
E isso é uma tasca: restaurante simplão, despretensioso, comida abundante e barato (ainda mais comparado com os restaurantes de Amsterdam).
Sobre o lance de estar vazio: dizem que lota, mas nós estamos acostumados a comer no horário de janta holandês, ou seja, cedão. Se dá seis e meia e não tem janta na Holanda rola protesto político, e nós entramos no ritmo, com a Babyduc liderando a tendência. Talvez por isso todos os lugares em que jantamos estavam vazios, em geral conosco e mais um grupo de holandeses (sério!),
Como foi com criança: chegar no alto foi meio tramposo devido à subida (que o maldito do Google Maps não avisa), mas estávamos prevenidos e fomos de ganguru, deixando o carrinho na pensão. Foi bom, porque a infra no lugar pra isso é inexistente. Degraus, lugar pequeno, sem cadeirinha pra criança. Não testei banheiro, mas, olha, a tirar pela minha experiência em estabelecimentos similares, melhor assim. A Babyduc foi polidamente tolerada, nem festa nem hostilidade.
Não entenda mal, não foi nenhum desastre, a gente se virou bem, mas saiba que não rola infra pra isso. Se for, vá no jogo de cintura e esteja preparado pra controlar seu bebê (nós usamos, de novo, brinquedinhos e livrinho, com os quais a babyduc se divertiu).
Avaliação final: curti, o bifão era de responsa, e saiu barato (pagamos €17,50 dois pratos enormes, mais bebidas). O esquema é esse, simplão, pé no chão e gostoso. Não espere alta gastronomia, nem nada do outro mundo, mas um lugar honesto onde os locais comem.
Casa de pasto O Eurico Ferreira
Site: tá falando sério?
Endereço: Largo de Sao Cristóvão 3, Lisboa.
Telefone: +351 218 861 815
Aproveitando Lisboa da melhor maneira!
Eu tenho uma super dica pra aproveitar Lisboa da melhor maneira, poupando tempo e dor de cabeça, vendo tudo de essencial e aprendendo ao mesmo tempo.
É só chamar os guias brasileiros Priscicila e Rafael, blogueiros do Cultuga. Eles moram em Lisboa e vão te pegar no seu hotel e te levar por Lisboa, e você vai experimentar e aprender sobre Lisboa de uma maneira gostosa, descontraída.