Um dia, eu estava passando com as crianças perto da casa onde Anne Frank morava (não é a atração famosa, o museu é a casa onde ela se escondeu, não onde ela morava. Eu expliquei mais onde fica nesse artigo com roteiro).

Ali, diante da estátua da Anne Frank de malas não mão, pela última fez olhando para a casa que nunca retornaria, a minha filha apontou e falou:
"Essa é a Anne Frank, né papai?"
"Sim, amor"
"Por que eu só vejo imagens dela quando criança? Por que não fizeram estátua dela grande?"
A melhor maneira de responder perguntas difíceis é ser honesto
Antes de ser pai, eu sabia que iria ter de responder perguntas difíceis. Mas eu achava que seriam coisas como "de onde vêm os bebês?" ou "qual o sentido da vida" e tal. Essas perguntas (e outras) até que foram fáceis. Como explicar algo como o holocausto para uma menininha de cinco anos?
"Porque ela não viveu até ser grande, amor. Ela morreu adolescente."
"Por que ela morreu tão cedo, papai?"
Era a segunda vez que ela me perguntava isso - da outra vez fui salvo por alguma coisa que a distraiu. Ela só tem cinco anos. Dessa vez, respondi.
"Por causa da Guerra. Ela foi vítima da Guerra."
"O que é guerra, papai?"
Respira fundo. Vamos explicar.
"Quando dois ou mais países brigam".
"Por que eles brigam?"
"Muitos motivos. Um país pode querer algo que o outro tem, e tentar tomar com força".
"Isso é feio!"
"Sim, amor, muito feio".
"Como eles brigam?"
"Com armas e máquinas de guerra."
"Que são armas?"
"São ferramentas de machucar pessoas".
"E eles usaram isso na Anne Frank? Aqui na Holanda?"
"De uma certa forma. Sim, usaram."
"Ela só queria ficar na casinha dela, lendo um livro, ou brincando, ai veio a guerra?"
"Sim. Sim, amor. Tudo o que ela queria era viver a vida dela".
"Mas isso faz tempo, né papai?"
"Sim"
"Não vai ter mais guerra na Holanda nunca mais, né papai?"
Lembrar o passado é melhorar o futuro
Parei de novo pra pensar. Aproveitei que na frente da casa onde Anne Frank morava há essas placas marcando a memória do ocorrido, e fui com ela até lá.
Expliquei que para que não haja mais guerra, é preciso lembrar do que aconteceu quando houve, do sofrimento que causou, é preciso lembrar das meninas e meninos que queriam apenas ficar na casinha deles lendo um livro ou brincando com seus papais e mamães. É preciso lembrar para que, quando vierem falar de ódio a outros países e outros povos, a gente se levante e diga: não.
Não, Anne, nós não esquecemos.
