Febre dos patins toma a Holanda e todos torcem pela Elfstedentocht

Não estou sendo original com este título. Eu e todo mundo que está no Holanda está dizendo isso. A manchete do Metro de hoje é "Het land is ziek, van de schaatskoorts" [O país está doente, com a febre dos patins]. As temperaturas caem loucamente, os canais congelam, e os holandeses correm a patinar, resmungando que finalmente, finalmente cai a temperatura o suficiente pra patinar em água naturalmente congelada. A reclamação de que desde mil novecentos e bola que nada congela nesse país e as crianças de hoje não sabem patinar porque as águas não congelam mais, não é em nada abalada pelos fatos, claro. Inverno passado nevou ("não neva na Holanda tem dez anos", disse um deles esse verão, imune à realidade em contrário) e os laguinhos congelados do Vondelpark abrigaram crianças e adultos a patinar, felizes, em 2007. Mas eu me identifico com os holandeses, sendo eu mesmo um grande adepto da filosofia de não deixar evidências concretas entrarem no caminho de uma boa resmungada - ou tiração de sarro, outro esporte nacional do qual sou grande fã.

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Foto de 1832, última vez que nevou na Holanda devido ao aquecimento global...
Nem sabe andar direito...
"Não, porque as crianças nunca patinaram em água naturalmente congelada..." Foto de 2007.
Famílias inteiras
Outra criança em 2007 que nunca andou em água naturalmente congelada porque ela não congela desde 1996.
Todas as idades
O famoso holandês patinante noutra foto de 2007! Como *assim*, "a última vez que deu pra patinar em água congelada naturalmente foi em 1996"?!

Mas numa coisa eles têm toda razão: esse inverno 08/09 está muito mais frio do que o 07/08. Hoje de madruga a KMNI registrou menos dezoito em Limburg, no sul do país. Amsterdam ficou coxinhas e singelos menos dez, suficientes para na semana passada o Herengracht ter o trânsito para barcos fechado, o que ouriçou os amsterdaneses com a possibilidade de fazer algo que é realmente raro: patinar nos canais de Amsterdam. Oh, grande expectativa se criou, e quase pude ouvir o AAAAAAAAHHHnnnnn de decepção da cidade ao acordar e ler que os mergulhadores confirmaram que o gelo não era grosso o suficiente pra permitr a patinação. Logo me juntei, com convicção e afinco, ao resmungo coletivo quando reabriram o Herengracht pra turistada passear de barquinho.

Apesar dos canais de Amsterdam permanecem congelando apenas parcialmente e inacessíveis pros patinadores, os holandeses estão tomados da febre nacional. Qualquer folguinha é aproveitada de patins nos pés, a deslizar em cima do gelo. Gelo natural, mind you, o que faz grande diferença. Eu fico na beirinha dos laguinhos congelados, só olhando e morrendo de vontade de participar, apesar da conspícua falta de patins próprios e total ausência de experiência em patinação. Vou hoje a noite mesmo resolver isso. Vou alugar um par de patins e tentar a sorte numa pista artificial, na esperanca de algum dia me juntar aos holandeses nos lagos. Sabem como é, amigos... febres são contagiosas. 🙂

A grande paixão holandesa por patins na maior corrida do mundo: Elfstedentocht

Agora, apesar dos lagos congelados e das temperaturas negativas por todo o país, nenhuma febre de patins será completa sem a ocorrência da mítica, rara, esperada... ELFSTEDENTOCHT!

O nome ecoa nas conversas, na mídia, nos blogues. Por toda parte ela é esperada, aguardada, relembrada. As conversas giram em torno dos palpites, rolará esse ano? Nos bares e cafés, aguce as orelhas e ouvirá: Elfstedentocht! Elfstedentocht! Nenhuma tradição holandesa é completa sem dispensar a barra de espaço no nome e juntartudonumapalavrasó. Elf quer dizer onze, steden é cidades e tocht é tour, jornada. Elfstedentocht, o tour das onze cidades!

Quando faz frio o suficiente em Friesland, no norte do país é possível patinar nos canais congelados que formam uma intrincada rede que acaba por conectar diversas cidades. Organiza-se então uma corrida de patinação aberta ao público. É um grande evento, o país literalmente para pra ver quinze mil holandeses deslizarem abaixo de temperaturas negativas por duzentos quilômetros de canais congelados cruzando onze cidades em um grande tour.  Há uma grande festa na noite anterior à partida, na cidade de Leeuwarden (que é também a chegada) e no dia seguinte, quem não vai patinar vai ver a corrida. Mas, oh, a Elfstedentocht é muito mais rara do que copa do mundo. Somente com quinze centímetros de gelo na maior parte dos canais é que eles são liberados pra corrida. E pra isso é preciso um frio que não ocorre com freqüência - desde 1909, ano da primeira, só houveram quinze corridas. Em um século!

Talvez por ser tão rara ela seja tão especial, e os vencedores são sempre lembrados, seus nomes viram lendas. Só que a coisa toda é mais pela farra do que pela glória, e em 1933 os dois primeiros colocados, quandos e aproximavam do fim de exaustivos 200 quilômetros de patinação, se deram as mãos e cruzaram a linha de chegada juntos, numa pura demonstração de holandezisse. Na próxima Elfstedentocht, de 1940, os CINCO primeiros colocados se deram as mãos e cruzaram a linha juntos, empatados. A organização do evento se enfureceu e proibiu a prática, ameaçando com pronta desqualificação quem fizesse isso. Pelas 4 Elfstedentochten seguintes todos se comportaram, mas em 1956, não um, não dois, mas os cinco primeiros colocados desafiaram a organização e cruzaram a linha de chegada de mãos dadas, empatados. A organização cumpriu o prometido desqualificando todo mundo, e a corrida não teve vencedores. Ausência de vencedores que, desconfio eu, cabe bem no espírito da coisa.

E agora, em 2009, exatos cem anos depois da primeira, as temperaturas caem como não caiam desde 1997, ano da última, e o país torce, ansiosamente, por uma Elfstedentocht. E eu, encantado e fascinado com esses resmungões, gozadores e igualitários holandes, também.

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