Passagens aéreas para Portugal compradas. Para não fazer feio e entrar no clima, você coloca na sua playlist Roberto Leal. Assim, ao som de “Arrebita”, abre uma planilha do Excel para montar o roteiro e, logo pensa: “Ah, já que vou para Portugal, não custa nada dar uma esticada até Espanha-França-Bélgica-Holanda de trem. Todo mundo diz que os trens da Europa são fáceis e as viagens são bonitas, né?”
Para tudo! Antes de soltar um “ora, pois” ao encontrar com o primeiro português da sua viagem, veja o que você precisa saber antes de embarcar para a terra do Fernando Pessoa!
1. Acessibilidade pode ser... um desafio, digamos assim
Sabe o calçadão de Copacabana, no Rio de Janeiro, com aquelas ondas? Esse é um dos modelos de calçada portuguesa que todo o brasileiro lembra. Feito no século XIX, está por todos os lados em Portugal. É uma marca muito bonita e emblemática do país, mas nada acessível.

Isso significa que os sapatos de salto alto (principalmente os finos) e as solas escorregadias são inimigos da calçada. Tenha atenção ao escolher o que você vai levar na mala. Os tênis e as botas mais esportivas são os melhores amigos dos viajantes, sempre.
Ah, e não se preocupe com as formalidades. Até em um restaurante de chef ou em um jantar com Fado, por exemplo, você não será o único que não foi vestido para a festa.
Cadeirantes, pais com carrinhos de bebê e viajantes com malas de rodinhas também precisam de um esforço dobrado para enfrentá-las. Não há como escapar, principalmente quando a calçada se une a um outro obstáculo comum por aqui, que são… As ladeiras!

Lisboa e Porto são os principais exemplos do sobe e desce que você vai ter que fazer ao visitar seus centros históricos. A capital portuguesa, aliás, é popularmente chamada de “A Cidade das Sete Colinas”... então, você imagina, né?
Mas, recupere o fôlego, e não desista!
A Câmara de Lisboa (que equivale a prefeitura no Brasil) tem feito obras por toda a cidade para amenizar essa situação. Nas áreas mais históricas, como o Chiado, Alfama e os arredores do Castelo de São Jorge, por exemplo, começamos a ver alguns elevadores urbanos (além dos históricos, claro).
Em bairros mais novos, a calçada portuguesa já aparece mesclada a outro revestimento liso ou com ciclovias, facilitando o deslocamento para muita gente. Está longe de ser ideal, mas é uma medida importante.
Porém, em qualquer que seja a cidade portuguesa escolhida para conhecer, sabe qual é o prêmio que você recebe ao subir uma ladeira? Ter uma vista dessas:

Por fim, não dá para contar com escadas rolantes e elevadores em todas as estações de metro e trem do país. Ao escolher esses meios de transporte, guarde alguma energia, caso precise subir com a mala por alguma escadaria. Nós já passamos por isso algumas vezes, e podemos dizer: ainda bem que a gentileza das pessoas por aqui ultrapassou a falta de acessibilidade!
2. Os portugueses não dizem "Ora, pois"
Se você acha que vai descer do avião e logo encontrar com um senhor de boina e bigodão entoando um sonoro “ora, pois”, esqueça!
Nós garantimos: nunca ouvimos essa expressão por aqui. Já perguntamos aos amigos portugueses e alguns conhecidos sobre isso, e a resposta foi sempre a mesma: "Não falamos isso!".
O que o português diz muito é “pois”, sozinho, ou o duplo “pois, pois”, sem o “ora”, para concordar com algo que foi dito. Como quando os brasileiros dizem: “pois é”.
Quer se divertir com as diferenças entre o português europeu e o português brasileiro? Ao sair do hotel cedinho, antes de pegar a bicha do autocarro, faça um pequeno almoço reforçado, com um abatanado, uma tosta e um pastel. De barriga cheia, meta uma música fixe nos auscultadores e siga por suas andanças pelo país.
Precisa de tradução? Então leve no avião o livro “Schifaizfavoire”, do Mário Prata, para chegar ao país gabaritado!
3. Roberto Leal não é sinônimo de Fado
O Roberto Leal é uma das maiores referências que os brasileiros têm da música portuguesa. Para já esclarecer no primeiro parágrafo: o que ele faz é música popular, não Fado.
Apesar dele ser uma figura bastante carismática dos dois lados do Oceano, no Brasil, ele é o português, em Portugal, ele é o brasileiro. Isso porque, ao longo de sua carreira, viveu dividido entre os dois países apresentando músicas populares portuguesas e brasileiras.
Ele já gravou fados também, é verdade. Mas isso não faz dele um fadista e tampouco um representante do Fado... principalmente com “Arrebita”, “Bate o pé”, “Tiro-liro”, “O Malhão” e o “Vira”, que são músicas folclóricas.

O Fado é a tal música recheada de alma, muitas vezes triste, mas não só. Ele é acompanhado da guitarra portuguesa e de um vocal bem característico, carregado de emoção. A grande representante desse estilo musical também fez muito sucesso e amigos no Brasil: Amália Rodrigues.
Ela é lembrada como a Rainha (1920-1999), mas engana-se quem pensa que a Amália só cantou fados. A diferença está na carreira que construiu, focada no Fado e na divulgação dele para o mundo, imprimindo uma forma muito própria de cantar, indissociável de seu cunho fadista - que poderia ser percebido até se ela cantasse uma ciranda rs.

Parece confuso? É mais simples do que você imagina! Se quer aquecer os ouvidos antes da viagem, aproveite, então, para conhecer alguns dos representantes atuais. Anota aí os nossos favoritos: Carminho, Ana Moura, Camané e Marco Rodrigues.
4. Viajar de trem de Portugal para outros países europeus não é tão magicamente simples assim
Você marcou a sua viagem para Portugal e, quando contou para os seus amigos, certamente, alguém soltou: “Ah, se você vai para lá, então por que não aproveita para esticar até outros países da Europa de trem? É tão pertinho e rápido!”, não foi?
Calma. Não são todos os países da Europa que são conectados por uma imensa e eficiente rede ferroviária que contempla de maneira ímpar o seu roteiro dos sonhos com cada cantinho que deseja visitar rs.
Falando de Portugal, a ponta de cá do mapa, não há várias ligações de trens para o exterior, com muitos horários e, principalmente, rapidez. Infelizmente, não são como os trens de alta velocidade da França, por exemplo.
De Lisboa a Madri, são mais de 600 km de distância. Quanto tempo demora para fazer esse trajeto? Dez (10!) horas de trem! Fora o tempo gasto de hotel a hotel, a espera na estação de partida e os horários disponíveis para esse percurso.
Será que realmente vale a pena gastar esse tempão em deslocamento?
Para otimizar a viagem e economizar, é melhor considerar as empresas aéreas low-cost (não esqueça de somar o valor da bagagem a ser despachada). Ou usar o sistema de "múltiplos destinos" das grandes companhias. Com rapidez, bons preços para quem se programa e algum conforto.
Mas, quer saber? Dá para ser bem feliz viajando de trem por Portugal. O país é pequeno e, com pouco tempo de percurso e a um custo muito baixo, você consegue ver regiões muito diferentes. A malha ferroviária não contempla todas as áreas, mas inclua um percurso de Lisboa a Cascais ou do Porto ao Peso da Régua, que você vai entender essa magia.

E, aí, basta voar para Amsterdam que, em 3 horinhas, você continua as suas férias em mais um lugar especial 🙂
