Como ir de Amsterdam até Berlim
Existem muitas maneiras de ir de Amsterdam até Berlin. Voar é uma delas. Eu sempre gostei de voar, mas ultimamente não tenho gostado de viajar de avião. O processo todo antes e depois da parte legal, voar, está cada vez mais chato, com todo aquele procedimento de "vamos tratar todos como terroristas para mostrar como estamos fazendo nosso trabalho combatendo perigosas armas, como o leite materno, suco de laranja e bebês de colo, e ainda descolar um troco cobrando 3 euros uma garrafinha d'água depois que te obrigamos a jogar fora a água da torneira que você trouxe de casa". Então, sempre que podemos, escolhemos o trem.
Além de nos poupar do procedimento caça-turista, ops, terrorista, dos aeroportos com a vantagem extra de podermos chegar bem mais perto do embarque em vez de ficar em intermináveis filas enquanto revistam a nossa sola de sapato, ainda temos de bônus a paisagem e menos emissões de carbono. E caras, Holanda e Alemanha capricharam na paisagem: nevada, com sol, linda de morrer. Escolhemos o trem e nos demos bem.
Onde comprar a passagem e tipos de trem
Mas antes de chegar nisso, tivemos de comprar as passagens. Comprar on-line é teoricamente possível no site da NS Hispeed, mas nunca conseguimos fazer o site funcionar direito pra efetivar a compra. Além do quê, quando se vai pessoalmente até a Centraal Station, e pega-se um atendente de bom humor, ele pode descolar as opções mais baratas pra você, e não a padrãozona.
Pra Alemanha, é possível ir com o super moderno trem ICE, o melhor modelo da DB (Deutsche Bahn), mas com ele é bem mais caro. Optamos pela opção peão mesmo, pegando o Intercity 140 - Schiphol - Berlin Ostbahnhof. Como este trem não pára na Amsterdam Centraal, pegamos um trem de lá até Hilversum, onde baldeamos pro Intercity até Berlin (veja as paradas do IC 140). Sai, tipo, metade do preço do ICE. E o trem é super confortável, mesmo na segunda classe.
Pra quem não guenta esperar, ou não se preveniu para as seis horas de viagem com lanchinhos (nós levamos os nossos 🙂 ), há um vagão-cafeteria, com chafés que dariam vergonha até mesmo em um holandês e croissants a €3,70. O único desconforto foi as janelas não terem cortinas ou persianas, e às vezes o sol batia em cheio na cara - resolva empurrando um dos cabides do casaco na frente ou mudando de lugar (o trem foi bem vazio, tanto na ida quanto na volta). E vá aproveitando a paisagem.
A viagem correu tranqüila, e chegamos em Berlin ao anoitecer (umas quatro da tarde). Ela nos recebeu nevada, branquinha e fria. Descemos na Berlin Ostbahnhof. De lá fomos andando para nosso Hostel. Saímos da estação e pegamos a Rua Comuna de Paris (Straße Pariser Kommune) até quase o cruzamento com a Alameda Karl Marx (Karl-Marx-Allee). Adivinha se estávamos hospedados na antiga Berlin Oriental ou Ocidental? Uma chance. Biduzão.
Aliás, a Karl-Marx-Allee tem sua própria história - foi por ela que os soviéticos invadiram Berlin durante a Segunda Guerra. Ou melhor, por onde ela fica hoje, já que na batalha (e bombardeios) o que havia antes foi totalmente destruído. Os soviéticos então construíram no lugar um monumental Boulevard, usado como emblema da reconstrução soviética da parte deles de Berlin.
Onde nos hospedamos em Berlim
Fomos fazer check in no nosso hostel, o Pegasus Hostel (Str. der Pariser Kommune 35 - 10243 Berlin). Excelente localização, ao lado do metrô e perto da Ostbahnhof, café da manhã bom.
Aliás, se você estiver atrás de hoteis, você pode procurar também noBooking.com por hotéis em Berlim!
No Pegasus, o pagamento é na hora do check in, por motivos que ficam óbvios quando você está lá. Público duro + recepção longe da saída, faça as contas. O pagamento via cartão de crédito cobrava uma taxa de 4%, mas, ahá, estávamos prevenidos, graças à pesquisa prévia da Carla, e saquei meu super PIN pas (cartão de débito em holandês) e mandei ver, confiando no Maestro. Nada feito. Tentei de novo. Nops, deu erro. Enfrento a gracinha do cara da recepção (talvez não haja fundos, har har). O que fazer? Usar o cartão em um caixa rápido qualquer. O mais próximo ficava na Karl-Marx-Allee mesmo. Lá fui eu, quase noite escura, andando pelas calçadas nevadas de Berlin. Nada de salzinho na calçada aqui, que nem o super civilizado Canadá. Aqui é no jeito alemão mesmo, no equilíbrio - eu vi mulheres andando de salto em cima de placas lisas de gelo, e vi um pai puxando um trenó com o seu pimpolho montado calçada afora.
Veio pra Berlim obrigado? Não, a turismo mesmo.
Andei pelo largo boulevard soviético, num sabadão, fazendo aí seus menos 5, menos 6, tudo nevado e escuro e sem alma viva por perto. E nada da porra do caixa rápido. Me equilibrei até o fim de uma quadra, respirei fundo e pensei, né possível, tem de estar aqui. Atravessei a imensa rua, e fui olhar na outra calçada, quem sabe eu errei o lado? Nada. Frio. Corvos croquejam, caw. Caw. Frio. Neve por todo lado, cercado por monumentais edifícios soviético, na quase noite de Berlin, um vento frio varrendo a neve, eu penso "caralho, será que eu vim parar num filme russo de 1972? Será aqui a zona do crepúsculo? Me fodi." Caw.
Vejo, vindo do nada, uma mulher ouvindo iPod, concentrada em não fazer slipt na calçada, olhando pra baixo. Usando a minha melhor cara de desespero não invasiva, pra atrair simpatia sem assustar e desequilibrar a mulher, me aproximo pedindo ajuda. Ela quase não me nota, mas me vê, tira o iFoneDeOuvido, e responde ao meu angustiado "do you speak english?" com um salvador "Yes, yes I do."
Salvo, expliquei a situação, e ela disse que, oh, a sorte, estava justamente indo para um caixa rápido que sim, estava ali, mas não na rua e sim dentro de um banco, que não tinha o nome escrito na frente do prédio, apenas o seu logo, um esse (S) vermelho. Detalhe que o meu chapa da recepção falhou em mencionar, o pândego. Fui sendo escoltado pela moça, fazendo o small talk de sempre, você é de onde, Brasil, legal, você veio a negócios, aqui, então?
- Não, a turismo.
Ela me olhou, com os olhos bem abertos, tomada pela surpresa. "Mas em janeiro! Quer dizer que você veio pra Berlin nesse frio voluntariamente? Mas quem diria!"
No caixa rápido tirei a grana (tinha saldo, sim), voltei, paguei o hostel e resgatei a Carla do quentinho da recepção em direção ao quarto, onde descarregaríamos e sairíamos em busca de um pico pra comer. Estávamos em Berlin pela primeira vez, e voluntariamente!


Dicas de transporte público, impressões
Nossas impressões e dicas de transporte público em Berlim estão em outro artigo.
Mas a melhor dica que eu posso dar é fazer um tour personalizado por Berlim em português com os Guias Nicole e Pacelli. Sério, eu garanto que você vai amar!