Usando como desculpa o lançamento do mais recente livro do autor de best-sellers Neil Gaiman, resolvemos ir pra Londres. Quer dizer, nós queríamos ir pra lá de qualquer maneira, mas sempre íamos adiando, adiando, muito devido à diferença Pound sterling - Real, maior que o canal que separa Amsterdam da Grã Bretanha. Mas quando li que o Neil Gaiman lançaria The Graveyard Book, ilustrado pelo David McKean no Halooween em Londres, eu pensei, que diabos, esta é uma hora tão boa quanto qualquer outra. Vamos ver Londres. Como disse o Cris ao citar Cazuza, "meu cartão de crédito é uma navalha". Fomos.
Grã Bretanha, Reino Unido ou Inglaterra?
Sempre me confundia com estes 3 termos até que sentei o pandeiro por 5 minutos na frente da Wikipédia pra descobrir o que era o quê e parar de falar besteira. Grã Bretanha é o nome da maior das ilhas do arquipélago chamado Ilhas Britânicas. Londres fica nesta ilha. O Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte, ou como é popularmente conhecido, Reino Unido, é um estado soberano que ocupa toda a ilha da Grã Bretanha e a parte nordeste da ilha da Irlanda. O Reino Unido foi formado pela união da Inglaterra (que incluía País de Gales) e Escócia em 1707, expandido pra incluír a Irlanda em 1800. Em 1922 teve uma guerra de independência na Irlanda e a República da Irlanda se separou do Reino Unido, deixando uma parte, a Irlanda do Norte, daí o nome atual do Reino. Então já sabe, não existe "cidadania inglesa", e sim "cidadania britânica", a Inglaterra é um dos "países constituintes" do Reino Unido (que só se separa em times diferentes em Copa do Mundo, que é pra tomar couro do Brasil por partes, se lhe agrada).
Entre Amsterdam e Londres são 45 minutos de vôo sobre o Canal da Mancha (British Channel pros megalomaníacos britânicos), mais uns 15 a 20 minutos de taxiamento e espera nos aeroportos, o que dá por volta de uma hora de viagem de avião (ou "cerca de seis horas e seis minutos" de carro, segundo o Google Maps). Como a diferença de fuso horário entre o Reino Unido e a Holanda é de uma hora a mais pra Holanda, a viagem de ida AMS-LON é "instantânea" e a de volta "demora" duas horas. Quem não sabe disso toma um susto ao pesquisar nos sites de aviação - uai, o vôo sai as nove chega nove cinco?! Como aconteceu com a Carla, da primeira vez que ela pesquisou 😉
Porque a Carla achou, graças a um erro de digitação de um colega, que tinha curso até mais tarde na sexta-feira de Halloween, eu fui bem antes pra Londres, fazer check-in no hotel e estar pronto pro evento de lançamento que iria começar às seis e meia da tarde, e ela iria embarcar só de noite.
Compramos um vôo da KLM de Schiphol a Heathrow. Londres muitos aeroportos. Os 3 principais são Heathrow, o maior e mais importante, tem Gatwik, o segundo maior e tem um menorzinho, o London City Airport, que fica dentro da cidade e só atende aviões pequeninhos, capazes de usar sua única pista curta. A KLM faz vôos pros três, sendo que os que pousam no City Airport são aviões de hélice! Como o tempo sobre o canal pode encrespar, como descobriu a Carla numa tempestade que causou uma turbulência equivalente a um brinquedo do playcenter, com as pessoas decolando das cadeiras (ah, então é por isso que eles acendem o sinal de "apertar os cintos"), os turbo hélices da KLM exigem um tanto a mais de coragem. Heathrow é extremamente bem conectado à cidade Londres, e foi esse que acabamos escolhendo.
(Pra ver como escolher vôos, veja o post "Dicas de viagem: como planejar a sua")
A imigração
Ah, e o medo da imigração britânica? Apesar do Reino Unido ser, sim, da União Européia, ele nunca assinou o Tratado de Schengen, que unifica as fronteiras e políticas de imigração entre os países signatários. Eventualmente os termos do Tratado de Schengen foram incorporados aos termos da União Européia, o que em teoria forçaria o Reino Unido a abrir suas fronteiras com o resto da UE. Mas, assim como recusaram o Euro, eles também recusaram estes termos, e foi aberta uma exceção pra eles. Desta forma, o Reino Unido é parte da UE, mas tem sua própria política de vistos e controle de fronteiras.
Pros brasileiros não é exigido tirar visto previamente pra fazer turismo no Reino Unido. Você vai até lá, se apresenta, diz que quer fazer turismo e eles podem te conceder ou não o visto. Ali, na hora, pá. Passou, passou, não passou, volta. Isto, mais a fama de durões dos oficiais de imigração da Grande Ilha, especialmente os de Heathrow, instila o terror frio nos corações brazucas, que se armam de todos os documentos que possam provar tudo que eles alegam, se vestem bem e vão lá, perninhas bambas, enfrentar os agentes de Sua Majestade. A execução sumária de Jean Charles de Menenzes, embora não exatamente relacionada com oficiais concedendo vistos, acabou se juntando ao conjunto de lendas e mitos e não contribuiu pra facilitar a sensação de insegurança pré-viagem. Quando no avião, procurando me encher de otimismo, fui lendo o Lonely Planet de Londres, acho a seguinte passagem:
Immigration authorities in the UK are though: dress neatly and be able to prove that you have sufficient funds to support yourself. A credit card and/or an onward ticket will help. - London (City Guide), 6a edição, pg 401 (Visas).
Escuta... como assim, COMO ASSIM "dress neatly"?! Tem que se vestir direito pra passar na imigração? E se você está amassado, barbudo do vôo e... como assim?! Isso tudo se juntou com um colega da Carla contando que já na fila da imigração eles estavam pedindo pra tirar sapatos, fazendo revista, e se transformou numa grande tensão daniduquesca.
Durante o vôo os flight attendants (steward's em, cof, "holandês") da KLM distribuem cartõezinhos da imigração britânica para os cidadãos que precisam de visto. Eu e mais alguns terceiros mundistas levantamos a mão e ganhamos nosso cartãozinho. Traga caneta, porque eles não dão. Eu não tinha uma, e contei com generosidade de estranhos, no caso, o holandês que não precisava preencher cartãozinho nenhum, mas estava se divertindo com umas palavras cruzadas (céus, de repente a idéia de palavras cruzadas em holandês me pareceu mais assustadora que a imigração britânica!)
O cartão é simples, nada daqueles questionários americanos de "você já participou de genocídios, detonação de dispositivos termo-nucleares, estupros em massa, dançou nu sobre cadáveres de criancinhas sob o luar ao som de death metal enquanto gargalhava incontrolavelmente num som que se confundia com um uivo bestial? Sim ou não?" Os britânicos são mais singelos. Dados pessoais (nome, nacionalidade, número do passaporte, endereço, profissão, etc.), tempo de estadia, endereço de onde irá ficar no Reino Unido (tenho o endereço do hotel à mão, além da caneta) e era isso. Date, assine e guarde. É pra entregar pro oficial de imigração junto com seu passaporte.
Quando desembarquei, fui seguindo os sinais de "arrivals", meio que o único caminho que tem. A fila estava mega vazia. Aliás estava tudo muito tranqüilo. Havia algumas pessoas na fila de passaportes da União Européia, e apenas duas pessoas antes de mim na fila de "todo o resto". Como tinha dois guichês atendendo, foi rápido pra chegar minha vez.
Fui atendido por uma distinta senhora de olhos muito azuis que me perguntou de onde eu estava vindo (Amsterdam), se eu morava na Holanda (sim) o que eu iria fazer (comparecer ao lançamento de um livro, depois turismo até domingo. - O seu livro? - Não, senhora.), quanto tempo iria ficar (até domingo), se eu tinha dinheiro pra pagar minhas despesas (sim). STAMP! Visto de seis meses (ou como está carimbado "Leave to enter for six months". Aqueles que faltaram nas lições de inglês do colégio, "leave" quer dizer "deixar", sim, mas também "licença, permissão"). Issaí. Estava dentro em menos de 5 minutos, sem tirar sapato nem me vestir certinho, e o único documento que ela pediu pra ver foi o passaporte, apesar de eu ter tudo impresso - o que é altamente recomendável, aliás. Eles podem, e freqüentemente pedem pra ver prova de tudo o que você fala. Pode ser que minha experiência não tenha sido típica, mas foi a que eu tive, então, é o que eu posso falar. Agora, descolar a moeda local e a seguir aprender a chegar de Heathrow em Londres.
Conseguindo a moeda local - Libras esterlinas
Trocar a grana foi mega power super (insira mais um superlativo qualquer) simples. Bastou ir num caixa rápido (ATM). Como eu achei um? Você diz, além do fato de eles estarem óbvia e conspicuamente na minha frente? Bem, eu saí da área de recepção de bagagens pro saguão totalmente desorientado, parei um segundo pra me localizar e veio uma simpática mocinha com um jaleco amarelo do serviço de informações e me disse "posso ajudar?".
- Hã? bem... eu preciso de um ATM.
- Ali (aponta pra máquinas óbvia e conspicuamente na minha frente).
- Hum. Obrigado.
É só inserir praticamente qualquer cartão internacional, digitar os numerinhos e ela cospe pra você Libras (esterlinas), que são na verdade cheques da rainha ao portador. Como assim? Cada nota tem a cara da Rainha e está escrito "Bank of England - I promisse to pay the bearer on demand the sum of" e aí o valor por extenso da nota. Cool, huh? Eu achei. O reverso da nota de 20 pounds tem a cara do Adam Smith. Apropriado. Agora, sair de Heathrow e ir pra Londres.
De Heathrow a Londres - Metrô, Tube, Underground
Tem algumas alternativas. Eu escolhi a mais barata, o Tube. Metrô em Londres é o "Underground" ou "Tube". Eu saí no terminal 4 de Heathrow, mas todos os terminais são servidos pela linha Piccadilly do Tube, que tem a cor azul escuro. Veja uma lista das estações dela. A partir dela você pode conectar com todas as outras e pá, estás em London. Mas demora, viu. Não tenha pressa, a linha é comprida. Até o centro deve dar mais de quarenta minutos. Até meu hotel foi uma hora de passeio de Underground.
Pra comprar o bilhete a princípio pode parecer tão confuso quanto entender o mapa do metrô, mas assim como o mapa, é só ter paciência pra entender. Seguinte, tem o bilhete avulso, que custa um absurdo. Sai uns 4 Pounds. Tem o Oyster, que é o equivalente ao OV-Chipkaart da Holanda e ao Bilhete Único de Sampa, enfim, o cartão eletrônico pra pagar o transporte. Tem as tarifas mais baratas, mas é mais pra quem vai ficar na cidade um bom tempo. O que compensava no meu caso, era um passe diário. No caso da Carla, que iria chegar mais tarde e só faria uma viagem no dia, direto de Heathrow pro hotel, valeu mais a pena pegar a viagem única. Depois nós compramos um cartão diário novo a cada dia, assim poderíamos escolher as modalidades mais adequadas pra cada caso no dia.
Londres é dividida em seis zonas concêntricas a partir do centro. O centro é a zona 1, Heathrow fica na zona 6. Os bilhetes são vendidos na modalidade off-peak e normal. O off-peak só vale depois das 9:30 da manhã em dias de semana (o tempo todo em fins de semana ou em dia de semana fora da zona 1). Era esse que eu queria (era sexta depois das 9:30). Além disso, como eu estava em Heathrow, eu comprei um bilhete diário que cobria as zonas 1 até a 6. Saiu 7 Pounds. No sábado eu comprei o bilhete off-peak (era sábado!) que cobria apenas as zonas 1 e 2 (suficiente pra turistar nas principais atrações) e morri com £5,30. Você pode comprar na maquininha que tem de monte na estação ou ir no caixa. A maquininha é bem fácil de usar e aceita cartão de crédito (Visa e Master com certeza, não lembro dos outros, mas acho que aceitava mais), além de outras redes famosas de débito. Mas se tiver dúvidas, pode ir no caixa. Enfie o bilhete na catraca, entre, e boa viagem. Mantenha o bilhete o tempo todo com você, se baixar fiscalização ou você tem ele (e um válido pra zona que você embarcou e a que está) ou você morre com um saquinho de esterlinas pra deixar de ser mané. E o "Aími a turistchi, aími sorri", não cola, segundo as lendas. Além do quê, se você comprou o meninão que vale o dia todo, bem, você vai continuar usando, certo? 🙂
Serviço
- Tarifas do Underground- http://www.ukstudentlife.com/Travel/Transport/London/Underground.htm
- Site oficial do Underground - http://www.tfl.gov.uk/
- Site de cálculo de viagem pra Londres (Journey planner - você diz de onde vai sair, pra onde quer ir, e ele calcula a rota usando o transporte público pra você).
Dicas de etiqueta no Underground
O metrô de Londres é lotado e tem seu próprio conjunto de regras de comportamento (ingleses não vivem sem algum protocolo :). A principal regra é: não fique vacilando na frente de quem sabe o que está fazendo e está com pressa. Se precisa se orientar, saia do caminho e ache um canto, não fique parado, especialmente, não estaque que nem veado que viu catinguelê logo depois de passar a catraca pensando pronde que eu vou? que é atropelo na certa. Continue andando, ache um canto e lá pare pra ver onde que você vai. Espere as pessoas desembarcarem primeiro, depois embarque - isso deveria ser assim no mundo todo (*cof* igualzinho Sampa, *cof*), mas lá é sério. Não dê vacilo na escada rolante também. Se quer ficar parado, encoste na direita. Na esquerda é pra quem está passando com pressa, e se você ficar parado na esquerda é encontrão na certa. Um monte de gente deixa o jornal nos bancos. De manhã isso é uma gentileza, de tarde é "bloody litter". Jogue fora. Ou leia, sei lá 🙂 E principalmente, muito importante, mind the fucking gap. Eu achava que era meio que lenda, tipo, que era britânico se preocupando demais com o vãozinho besta entre trem e plataforma que todo metrô tem, mas não, é um gap respeitável em algumas estações. Do mind it. Você foi avisado.
E então, chegamos.
Ok, finalmente chegamos em Londres. As nossas aventuras no Reino de Sua Majestade ficarão prum próximo post. Se você quiser ver nossas fotos de Londres, elas estão aqui na nossa Collection de Londres. Dá pra se divertir com elas no "enquanto isso" 🙂
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