UPDATE: Esse artigo foi escrito em 2009, as coisas podem (ou não) ter mudado nesse tempo todo. De toda a forma fica o registro.
Três semanas, amiguinhos, três semanas fora do ar, ou quase. Sentiram nossa falta? Eu senti a de vocês. Viajamos para o Brasil não só de férias, mas também pra tentar resolver algumas pendências burocráticas (duas delas com orelhinhas de triângulo, quatro patas e ronrom a postos). Ficamos mais tempo do que a última vez, mas ainda assim foi corrido e cansativo - nunca dá tempo pra descontar toda a saudade acumulada das pessoas, em Sampa e Floripa. Rever pessoas foi maravilhoso, e me despedi com nó na garganta de todos. Pra ajudar um pouco nessa despedida difícil, resolvemos cumprir uma antiga promessa e trazer compania pra Amsterdam. Sim, fomos em dois Ducs e voltamos em quatro! Conheçam as duas bolas de pelo obesas e ronronantes, os pilantríssimos, gorduchíssimos, fofolentíssimos...
LINUS E BOO

BOO E LINUS

Essas duas pestes felinas, pegos na rua, que não valem sequer um pacote de biscoitos Maria (somados), vira latas, Sem Raça Definida, ordinários gatinhos, ganharam um chiquetoso microchip, registro internacional, documentos trilingues e mobilizaram um batalhão de gente em dois continentes pra serem aerotransportados através do Atlântico.
A viagem
Ah, a viagem... todos querem saber como foi a viagem dos pilantras. Foi cansativa, eles chegaram amuadinhos, mas logo começaram a curar o temido jet lag e a reconhecer o terreno (ou seja, descobrir onde estão as coisas caras pra quebrar e deixar o cheiro deles por tudo.) Agora estão super bem, já escolhendo os cantinhos favoritos da casa pra encher de pelos ao dormir ali as regulares 22 horas diárias dos felinos. O processo de importação de inúteis bolas de pelo de puro valor sentimental não é simples, mas também não é impossível.
Como transportar gatos do Brasil pra Holanda - burocracias
A coisa toda começou com um pulo na página do Consulado Dos Países Baixos no Brasil - SP para ver o procedimento de importar animais domésticos pros Países Baixos. A lista é a seguinte:
- Identificação do animal através de tatuagem visível ou microchip. A tatuagem visível será aceita até 02/07/2012, depois disso, somente microchip.
- Vacinação anti-rábica em dia, o que lava a...
- ...Um exame veterinário comprovando presença suficiente de anticorpos neutralizantes do vírus da raiva. Este exame deve ser feito em um laboratório creedenciado da União Européia, e deve ser feito pelo menos três meses antes da viagem.
- Certificado veterinário padrão da União Européia, em inglês e holandês, com a identificação do animal, do dono e a comprovação anti-rábica. Esse certificado deve estar assinado por um fiscal federal agropecuário. O que assinou o nosso estava no Aeroporto de Guarulhos.
Essa é a parte burocrática. Depois tem a parte da viagem em si. Como estávamos na Holanda e a coisa toda tinha de ser planejada com pelo menos três meses de antecedência, por causa do exame sorológico, pedimos ajuda pra uma clínica veterinária de São Paulo especializada em viagens de pets, a Universal Pet Brazil. Eles microchiparam os pilatrinhas, vacinaram, coletaram e levaram o sangue pro exame no Pasteur, e ainda providenciaram toda a documentação correta, assim como fizeram consultas veterinárias pra saber se os gatinhos estavam bem pra viagem. Super recomendados.
Preparando o transporte aéreo via KLM
Feito os trâmites burocráticos governamentais, restava agora os trâmites burocráticos aéreos. O procedimento de embarque varia em cada compania aéra. A que escolhemos, a mundialmente famosa Compania Aérea Real Holandesa, a KLM, segue este procedimento pra embarque dos seus amiguinhos. Há três maneiras: no mesmo vôo que você no porão, na cabine, ou como carga num vôo a parte. Na cabine é só pra bichinhos muito pequeninos, porque a gaiolinha toda tem de caber embaixo da poltrona, e isso não é muito espaço. Os nossos gordinhos estavam bem além do tamanho máximo pra isso, então eles foram no porão da aeronave.
Mas bem antes do embarque você tem que providenciar algumas coisas. A primeira delas é uma gaiolinha de tamanho suficiente, nos padrões da IATA. A KLM recomenda gaiolas da marca "Sky" e "Vari" como atendendo essas exigências (UPDATE: um leitor alega que não mais, veja comentários). Nós compramos direto na Universal Pet uma Chalesco Gulliver 3, com tamanho suficiente pros felinos ficarem de pé e darem uma volta completa (exigência muito sensata da KLM). Além das duas gaiolas, compramos também um bebedor automático pra cada, que nada mais é que um bocal pra garrafas PET comuns, com uma bola estilo rollerball na ponta. Os bichanos devem lamber a rollerball pra água sair, o que deve ser ensinado antes da viagem. Um truque é esfregar algo que eles gostem na rollerball, pra eles se ligarem do processo. Comida não precisamos por, porque eram apenas 12 horas de vôo, mais a espera no aeroporto (um total de 18 horas de confinamento felino miante). O pessoal da Universal Pet disse que pra esse período eles tinham reservas tranquilamente (apesar dos protestos do glutão do Linus), e que era até melhor, pra eles não enjoarem. Recomendaram tirar a comidinha deles duas horas antes do confinamento.
E aí, quando você chega com as gaiolas alguns dias antes, é legal deixar elas acessíveis, pros bichinhos irem se acostumando, e foi o que fizemos. Uns dois dias antes da viagem ela já era uma toca popular com a população miante do lar dos Ducs.
No dia da viagem, montamos uma mantinha higiênica, colada no fundo da gaiolinha, que nada mais é que um fraldão, pusemos um paninho com o cheirinho deles, que usavam pra dormir, um ratinho pra fazer compania, e plufa, fechamos os dois. Olha como fica a gaiola montada:
Com a gaiola providenciada e testada, ligamos reservamos um lugar no vôo da KLM. Isso é bem importante: se você não reservar antes, não tem viagem. Sinto muito.
E por último: a KLM não aceita animais dopados com tranquilizante! Eles alegam, o que faz sentido, que se houver turbulência o bichano deve estar esperto pra se proteger, em vez de ser jogado pra lá pra cá enquanto estiver grogue. Portanto, não usamos tranquilizantes no Linus e na Boo pra viagem. Eles foram com a carinha e o focinho limpos mesmo.
Indo pro aeroporto!
Bem, com os bichanos acomodados, nos mandamos pro Aeroporto de Guarulhos. Chegando no check-in, o Ed, da KLM, estava meio inseguro quanto aos procedimentos de despache de gatos. Mas a funcionária do lado dele (não peguei o nome), estava por dentro da situação, e aliás, disse que adorava gatos, tem 3, e deu uma força pra nós (e pro Ed). Entregamos toda a documentação dos bichinhos, que era: certificado de vacinação da Universal Pet, Certificado de Microchipagem, Exame Veterinário do Instituto Pasteur comprovando imunidade contra raiva, e o famigerado Certificado Veterinário padrão da UE. Tudo em cópias - os originais ficam sempre com você. A KLM irá afixar tudo na gaiolinha, te dar um formulário pra preencher com seus dados pra cada bichano, assinar uma checklist que o Ed preencheu pra gente perguntando as coisas, e pronto. Resta a parte dolorosa, pagar, ops, se separar dos bichinhos, seu insensível! Tá, mas primeiro precisa pagar. Foram, glup, USD240,00 por gatucho. Isso dá bem mais do que um pacote de biscoitos Maria. Na verdade, o preço oficial é €150,00 mais o excesso de bagagem deles. Convertidos, no nosso caso, deu USD480,00 no total. Você paga no balcão de vendas da KLM, pertinho do balcão de check-in, pergunte pro funcionário. Eu fui lá pagar, enquanto a Carla cuidava da burocracia toda.
No ar e depois, recebendo os bichanos
Quando estávamos acomodados na nossa poltroninha da KLM Economy Class, uma comissária de bordo veio nos informar que os fofuchos estavam a bordo e bem. Achei mega simpático. O vôo foi longo, chato e cansativo, como sempre, mas tirando o número regulamentar de brasileiros causantes, sem incidentes. Chegamos exaustos, e corremos pra esteira 16, onde sairia nossa bagagem. Fui perguntar pra um funcionário KLM em Schiphol onde retiraria os gatos, apenas pra ser indicado onde eu estava: atrás da esteira 16 tem uma saída chamada "Odd size Bagages" (eu tenho a tendência de dizer odd sized, mas era assim que tava...). De uma porta saiu um funcionário carregando dois muy amuados felinos. Tadinhos. Empilhamos eles mais as malas em dois carrinhos e saímos pela aduana, de mala, cuia, gato e papaga... tá, faltou o papagaio, sem sermos minimamente contestados pelos meganhas holandeses. Aliás, ao contrário, um deles inclusive simpaticamente indicou a saída pra Carla.
Tudo está bem quando acaba bem
Ufs. Foi uma aventura, mas como se diz, deu tudo certo no final. O serviço da KLM e da Universal Pet foi muito atencioso, e essencial pra coisa toda rolar sem dor de cabeça. Agora a encrenca dos roedores holandeses não é mais com a dona ratoeira, mas sim com a dupla dinâmica de gatos brazuquíssimos, que já estão a aprender a miar em holandês.

PS - Fevereiro de 2016 - Depois de doze anos de ronrons, companhia e fofolência, infelizmente nosso companheiro Linus partiu definitivamente, deixando um misto de carinho eterno e saudades dolorida. Obrigado por ter me ensinado tanto. Nunca fui seu dono - você sempre será meu amigo.