(Se quiser ver o álbum completo no Flickr, está aqui)
Já estabelecidos em Les Houches, nós fomos explorar Chamonix-Mont-Blanc (os franceses têm implicância com final de palavra, então eles dizem Chamonî Môn Blã). Nossa estadia ali era parte do plano de dar a volta ao redor do Lago Genebra, numa viagem de carro de 11 dias pela fronteira franco-suíça. Demos uma esticadinha pra dentro da França, perto da fronteira com a Itália para ver o Mont Blanc, Monte Bianco, La Dame Blanche, o maior pico da Europa Ocidental - 4810m.
O tempo esteve sempre nublado durante nossa visita à Chamonix, mas um dia eu li a metereologia dizendo que as nuves estariam baixas sobre o vale. Isso queria dizer que as montanhas estariam acima das nuvens, com tempo aberto lá em cima. Era bom o suficiente, e saímos de manhã rumo ao Téléphérique de l'Aiguille du Midi. Lá é possível comprar, além do passe pro local, o Mont-Blanc Multipass, que vale para todos os lugares e serviços administrados pela Compagnie du Mont-Blanc (exceto o teleférico que leva à itália, que é a parte). O que é bastante coisa e realmente compensa o preço de €48,50 de um dia, embora fique corrido. De repente, é melhor comprar de mais dias. Nós subimos apenas o Aiguille du Midi e, embora desse pra ir em outros, essa foi uma experiência espetacular. Vamos ver como foi.

A cidadezinha de Chamonix sediou os Jogos Olímpicos de Inverno de 1924, e de esportes de inverno vive até hoje. Nesta época do ano a cidade fica coberta de duas coisas: neve e turistas, e a cidade se especializou em extrair o máximo dos dois. Nós fomos já no final da temporada, quando a neve derretia e os turistas escaseavam.Aproveitamos bastante a linda cidade, especialmente nos entupindo de raclettes e passeando pela neve que persistia. O tempo não ajudava muito, e queríamos um dia bom, aberto, para a atração principal: pegar o teleférico para a Aiguille du Midi, montanha parte do maciço do Mont Blanc.











Aiguille du Midi tem 3842 metros, quase mil metros a menos do que o Mont Blanc, mas já é alta montanha. E dá pra subir até lá de teleférico - o Téléphérique de l'Aiguille du Midi, construído em 1955. A ascenção é emocionante - ou apavorante, depende se você curte alturas ou não. O carro dá altos chacoalhões, e ver a o vale se apequenando rapidamente abaixo de você irá acelerar o coração. É a maior ascenção vertical via teleférico do mundo - de 1035m até 3842m, feita em duas etapas. Achar a entrada do teleférico é fácil. O preço é meio salgado: €40,50 por adulto, ida e volta. Como assim, ida e volta? Dá pra pegar só ida? Dá: €36,00. Mas... e pra voltar sem teleférico? Como faz? Oras, montanha abaixo! A pé ou esquiando pelo famoso, pelo mítico... Vallée Blanche!


O Vale Branco, o itnerário de Alta Montanha, é aberto de dezembro à maio para os esquiadores aventureiros. O início do percurso se dá a partir do Aiguille du Midi e já separa os homens dos meninos ali mesmo: uma descida de gelo puro dá acesso ao vale, a temida arête do Vallée Blanche. É preciso ter experiência e equipamento adequado pra passar, senão nem chega ao Vale pra começar a descida de esqui. Um erro ali e é um tobogã pro além - dependendo de como você cair até dá tempo de se arrepender dos pecados durante a queda livre de centenas de metros. Se você tiver sorte, não escorrega pelo precipício e fica apenas no Vale com algumas fraturas e, se tiver muita sorte, talvez consiga até um helicóptero de resgate, já que você nem chegou a começar e está ao lado do complexo de serviços do Aiguille du Midi. Mas não conte com isto.
Se a rampa de acesso exige experiência pra descer (e subir, então, nem se fala: aí é escalada em gelo na contra-mão da longa fila de esquiadores. Boa sorte nesta empreitada), fazer o Vallée Blanche de esqui ou a pé é coisa pra feras. Não há resgate, não há marcações, não há helicóptero, não tem patrulha ou guardinhas dedicados a salvar pessoas. Na Alta Montanha impera a lei do "entrou porque quis, saia se puder". Aceite os seus riscos, porque ninguém mais é obrigado a aceitar o de morrer tentando salvar seu traseiro gelado. Crevasses estão por toda parte, o Valléé Blanche é ski sem pista, the real deal, 17 quilômetros e mil metros de desnível vertical, rock and roll. Há guias, pra quem quer brincar mas quer contar com pessoas experientes junto na aventura.
Do Aiguille du Midi há vistas espetaculares pro Mont Blanc e resto dos Alpes franceses e pro vale de Chamonix logo abaixo. Dependendo da época do ano, você pode pegar de lá mais um teleférico para cruzar por cima do Vallée Blanche até a Itália, que é logo ao lado. Quando fomos este estava fechado, uma grande pena.

Nós, é óbvio, só queríamos olhar o Vallée Blanche de cima, e ver o pessoal partindo. Ficaríamos na parte segura (pelo menos até eu conseguir convencer a Carla de que eu quero ir num trekking de alta montanha no ano que vem), com parapeitos, escadinhas e até um café - o mais alto da Europa (e surpreendentemente, não o mais caro.) Nele tem até uma caixa de correio, se você quiser fazer a graça de mandar um cartão postal a partir do teto da Europa. E o pior que ele chega antes dos enviados a partir daqui de Amsterdam. O correio holandês privatizado, TNT, não é exatamente ágil.


A foto da esquerda sou eu em 2009. A da direita é da exposição falando da construção do teleférico, uma aliança italo-francesa, e o ano é 1947. Não deixe o terno do tio enganar você. A temperatura raramente fica acima dos 10 graus negativos. Vista algo quente. E use óculos de sol! A exposição constante à neve pode causar cegueira temporária. Outra coisa: como é alta montanha, o ar é rarefeito, e você pode ter dor de cabeça, tonturas e falta de ar. Qualquer esforço cansa, então a menos que você saiba o que está fazendo, pegue leve. Se sentir muito mal estar, desça no próximo carro. Baixando a altitude, os sintomas devem desaparecer. Senão, procure um médico. Ah, e a subida não é recomendada para crianças pequenas. No verão, as filas ficam ainda maiores. Se quiser, pode reservar antes.
Ficamos mais de três horas no topo, olhando, fotografando e ficando sem fôlego - pela vista e pela altitude. Valeu cada minuto e é um dos lugares que eu quero voltar algum dia, certamente. Um trekking no verão lá deve ser algo. Tiramos uns dezessete milhões de fotos. Subimos uma pequena amostra para um álbum no Flickr, o qual recomendo ver em slide show.
Serviço
http://www.compagniedumontblanc.fr/
100 place de l'Aiguille du Midi F-74400 Chamonix Mont-Blanc
O itnerário completo de nossa viagem ao redor do lago:

Pegamos um avião de Amsterdam para Genebra (Genève, Geneva - A/K no mapa), onde ficamos por dois dias. Depois alugamos um carro, cruzamos a fronteira da Suíça em direção à França, e alugamos um chalé alpino em Les Houches (B), no vale de Chamonix, apenas 8 quilômetros de Chamonix-Mont-Blanc (C) e com um preço bem melhor (e a uma vista espetacular pro Mont Blanc e Aiguille du Midi). Passamos 3 dias entre Chamonix-Mont-Blanc e Les Houches, e no quarto nos mandamos pelo meio dos Alpes até Thonon-les-Bains (D), onde nos hospedamos. De Thonon visitamos de carro Yvoire (E), uma vila medieval preservada para alegria dos turistas, e Evian-les-Bains (F), famosa pela água mineral que leva o nome da cidade. O tempo não estava estas maravilhas, mas deu pra aproveitar. Saindo de Thonon pusemos o pé na estrada e continuamos a volta no lago, cruzando a fronteira na Suíça pra nos hospedarmos em Montreux (G), terra do festival de música mega famoso. De Montreux vimos o Castelo de Chillon (H) e a desconhecida cidade de Glion (I), abaixo de neve e bem acima de Montreux. Dois dias passamos nisso, e dali fomos até Lausanne (J), onde paramos por um dia antes de voltarmos à Genebra, onde devolvemos o carro e pegamos o avião de volta pra Amsterdam.
Histórias das outras etapas: Glion Montreux em dois tempos / Les Houches e chalé alpino / Como alugamos um Hotel em Montreux / Micão no Posto de Gasolina